sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cambodja

E muito complicado vir aqui relatar a viagem ate agora, primeiro porque o teclado nao tem acentos e segundo porque foi tudo tao intenso que tinha de escrever durante muitas horas. Indo ao essencial, Angkor Wat e' tudo o que dizem ser e muito mais. E' magico, e' incrivel, e' virgem, e nao deixa ninguem indiferente a tanta beleza. Depois de Angkor seguimos para Phnom Penn, a capital do Cambodja, onde o ponto alto foi ver o museu de Tuol Sleng, antiga escola primaria que foi transformada pelo Khmer Rouge num centro de interrogatorios. Foi um passeio muito pesado mas muito necessario para compreender o que se passou no Cambodja, que ainda e' para muitos de nos uma realidade desconhecida.

No dia seguinte foi dia de cruzeiro pelo Mekong. O rio e' para as pessoas que moram nas margens, nao so a sua forma de sustento mas algo que lhes molda completamente a existencia. A vida corre devagar, e a simplicidade e o calor que transmitem e' espectacular. Depois passar a fronteira para o vietnam e de uma noite numa cidade portuaria, Chau Doc, andamos mais um pouco de barco e seguimos de autocarro para Saigao, no Vietnam. E' aqui que me encontro agora e amanha devemos comecar a subir a costa do vietnam parando em algumas cidades ate chegar a Hanoi.

Tem sido fabuloso, tudo aquilo que eu esperava, o que so me da pena de nao poder ficar mais tempo e gozar tudo com mais calma.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

De partida

Parto já amanhã para a GRANDE VIAGEM. Vou tentar ir arranjando net para mandar notícias mas por enquanto é tempo de fazer os últimos preparativos, (comprei uma ventoinha portátil (!!!)), despedir-me de toda a gente que já não vai estar em Macau quando regressar e preparar-me mentalmente para o que nos espera (principalmente o calor, a possível chuva, e uma mochila que meio cheia já pesa mais do que deveria).

Primeira paragem: Angkor Wat, Cambodja, depois de uma noite passada no aeroporto de Kuala Lumpur. É o início daquela que vai ser a maior viagem que fiz até hoje.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

E agora?


Vem aí um tufão.... que deve chegar no fim-de-semana, altura em que eu queria estar a apanhar o belo do avião para ir para a Malásia. Se o tufão mantiver a rota prevista muito possivelmente o meu voo terá de ser adiado.

Isto começa bem.

Só espero que, como tem acontecido, o tufão à última da hora fique quietinho onde está ou mude de opinião e vá chatear o pessoal para outro sítio qualquer.... please pleaseeeeeee

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Querem vir?


O percurso está finalizado: voamos daqui para Kuala Lumpur e de lá para Siem Reap, no Cambodja, cidade de Angkor Vat. Depois disso seguimos para Phnom Pen ainda no Cambodja, descemos o delta do rio Mekong de barco e atravessamos a fronteira para o Vietnam, até Ho Chin Min. Aí iniciamos a viagem para o Norte do vietnam, de comboio e sempre junto ao mar.

Paramos em Da Nang e talvez em mais sitios (porque a viagem de uma só vez é para campiões e nós somos umas meninas) e chegamos a Hanoi, norte do Vietnam. Daí voamos para Luang Praban, no norte do Laos (porque as estradas são medonhas, demora-se quase dias e para piorar vamos na altura das chuvas).

Damos mais umas voltas no Laos (ainda não sabemos bem por onde) e voamos para Chian Mai na Tailândia. Aí apanhamos um comboio nocturno para Bangkok (daqueles com camas e um calor infernal e sabe-se lá mais o quê). Se chegarmos a tempo, vamos a Full Moon Party em Koh panham no sul da Tailandia.

25 dias, 4 países. Só espero que não chova o caminho todo (tudo a fazer a dança da não-chuva sff)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A grande epopeia

E, assim de repente, está quase a acabar. Logo agora que começava a sentir-me menos turista, que ja sabia o nome de dois ou três restaurantes e quatro ou cinco pratos em chinês, vou voltar para a galinha com amêndoas e o facilitismo de uma linha de metro. Passou rápido demais, foi curto demais e, se demorou a assentar a ideia que vinha, a de voltar ainda não caiu em mim.

Mas agora a grande aventura, na qual estou a pensar quase desde que aqui cheguei vai começar: a viagem final (ou a GRANDE VIAGEM, porque assim parece mais fixe). Vão ser 25 dias de mochila às costas, debaixo de um sol que se prevê abrasador, de chuvas tropicais e a tentar afastar os mosquitos da malária. Vamos dormir em sitios badalhocos, comer coisas inomináveis e tomar poucos banhos (espectacular hein?). Se tivermos sorte vemos uns quantos sítios incríveis (entre eles Angkor Wat), conhecemos uns locals e acabamos nas praias da tailândia com a única preocupação de obter um bronze uniforme.

Quando o percurso estiver finalizado eu publico, por enquanto só sabemos que queremos ir ao Vietnam, Cambodja, Laos e Tailândia. Os preparativos estão a ser feitos meio à pressa, na incerteza do que devemos ou não levar, do que é supérfluo ou nos vai fazer uma falta desgraçada. Eu, claro, acho que tudo vai fazer falta e por isso tratei de me abastecer com suficientes comprimidos para problemas digestivos, repelente (em patches e spray), bálsamo tigre (aconselham vivamente no lonely planet) desodorizantes, toalhitas e até perfume (por mais que me digam que um backpacker não usa perfume).

E agora, só para meter um bocadinho de inveja:




Angkor Wat (Cambodja)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Karaoke night

Fomos experimentar outro dos hábitos chineses: fomos a um Karaoke ou KTV. Não é tanto o karaoke que é culturalmente estranho (as vendas do sing star para a playstation bem mostram que todos nós achamos que noutra vida fomos as britneys deste mundo) mas sim o facto de a noite para eles ser só mesmo aquilo - depois do karaoke é xixi cama.

Nós fomos ao Karaoke porque uma amiga nossa ia mudar de trabalho e por isso os colegas fizeram-lhe uma festa de despedida no karaoke. Por isso nós juntámo-nos à festa. Por isso tivémos a oportunidade de partilhar os nossos dotes artísticos com um grupo de Chineses super animados, muito diferentes da imagem que tinhamos deles.

Foi cantoria, foram jogos de dados, foram muitas músicas chinesas de teor altamente romântico-depressivo num estilo que nos pareceu "eu já ouvi isto em qualquer lado". Lá pelo meio aparecia uma Mariah Carrey, um YMCA e outras músicas que nos deram a nós uma hipótese de brilhar. Claro que os chineses não ficaram nada impressionados e eventualmente a proporção músicas chinesas/ocidentais tendeu naturalmente para o lado deles, e ainda bem (embora alguns de nós tenhamos tentado cantar músicas chinesas).


Ficámos fãs e havemos de lá voltar!





Keep me up to date

Confesso que não sei os líderes dos partidos em Portugal, consigo enumerar um ou dois ministros e já perdi o fio a meada nos casos Freeport e Casa Pia. Mas a grande vantagem de viver num sítio pequeno como Macau é que não existem muitas notícias da actualidade. Todos os dias folheio os vários jornais que temos na cafetaria do consulado e as notícias são invariavelmente as mesmas (a gripe, as candidaturas ao executivo, as receitas de jogo, a crise). Aposto que na China a coisa é um bocadinho mais animada, até porque o caderno de economia do South China Morning post é bem mais gordinho que os jornais aqui de Macau. Mas, mesmo assim, as notícias políticas são controladas pelo partido, pelo que as que saem acabam por ser mais ou menos inócuas. Salve-se as notícias internacionais (as que não forem censuradas).


A coisa é tão má que até eu já saí no jornal.


Nunca me senti tão actualizada. Até já posso fazer um brilharete a discutir política Macaense numa mesa de café.

The joys of camping

Estar sempre rodeada de comodismos, dos confortos que séculos de invenções geniais nos trouxeram não é para nós. Não.... nós lá em casa gostamos é das coisas mais terra-a-terra, de uma vida simples e pura. Como nos acampamentos.

Electricidade? Quem é que precisa disso? E gás? Ainda menos.

Desta última vez foi a àgua que ameaçou acabar. Mas para nosso infortúnio foi apenas uma ameaça porque a perspectiva de tomar banho de garrafão estava a parecer-nos espectacular.

A verdade? Esquecemo-nos de pagar as contas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

And then they were gone....

Esta coisa de se receber visitas é muito giro até ao dia em que eles se vão embora e temos nós de ficar outra vez sozinhas rodeadas de chineses badalhocos. Por mais 2 meses.

Depois da chegada de Pequim, na terça feira de tarde a família foi passear por Macau, para consegui pôr um "check!" em tudo o que lhes faltava ver: o templo de A-Ma e o farol da Guia. As opiniões foram unânimes de que depois de Pequim tudo isto parece pequeno e provinciano. Nesse dia almoçámos nos noodles no Hotel Grand Lisboa, onde existe um balcão envidraçado onde os senhores cozinheiros fazem os noodles (mais ou menos como na telepizza mas com Chineses e noodles). É um espectáculo impressionante não só destreza com que fazem os noodles mas também porque um deles coloca a massa na cabeça (com o chapéu a proteger está claro) e com duas lâminas que parecem machados mas sem o cabo, vai cortando pedaços fininhos da massa que caem para a panela. A cozinha chinesa no (quase) auge da estranheza. Além disso, o restaurante tem ainda um senhor que serve o chá num bule com com um bico que mede tranquilamente uns 60 cm e faz malabarismos com o bule só para nos impressionar e entreter.

Depois da passeata eles foram a Zhuhai, porque em Pequim ainda não tinham comprado imitações suficientes. Mais uns ténis para o Miguel, outros para mim e mais uns para a Maria.

No dia seguinte, por ser dia de Portugal tive o dia livre e por isso pude ir passear com eles. Fomos tomar o pequeno almoço à Taipa, num café que se tornou rapidamente o meu preferido e onde já sou habitué aos sabados de manhã (porque tem uns danish de chocolate de sonho, um café razoavel, e dá para ficar sentada a ler um livro sem que ninguém nos chateie). Depois disso passeámos na vila da Taipa onde apanhámos a dança do dragão, com a sua musiquinha repetitiva e nada melodiosa e o ocasional rebentamento de panchões que a eles lhes pareceu um atentado à bomba. Passeámos nas casas-museu, onde estava a haver uma exposição de arranjos de flores e seguimos para o Venetian.

Como não podia deixar de ser o Miguel desatou logo a comprar tudo o que lhe aparecia à frente (não sei como não foi parado na alfândega em Lisboa com a quantidade de ténis que levou), a Maria e a Marta também fizeram as suas comprinhas, demos um passeio para verem o disparate que é o Venetian e fomos almoçar à praia de Coloanne, Cheoc Van, onde tem uma piscina pública e uma esplanada de um restaurante italiano. Ainda tentámos almoçar cá fora mas a minha fraca resistência ao calor e a inveja que pessoas na piscina me estavam a fazer fizeram com que tivessemos de almoçar lá dentro com o ar condicionado a -10.

Como nesse dia havia a recepção na casa do cônsul seguimos para Macau, fomos buscar umas fotos que tínhamos posto a revelar (entre elas as fotos da minha lomo) e seguimos para casa, aprontar-nos para a festarola.

A recepção na casa do cônsul foi engraçada, quando chegámos já estava a meio gás porque ao que parece depois do discurso foge tudo, claramente pelo calor que se faz sentir mesmo à noite, que faz o manter o casaco vestido um desafio para os homens. Jantámos por lá, entre croquetes, mini-empadas e queijo da serra e depois fomos ao rootfot, um bar num telhado ao pé das ruínas de São Paulo. Do rooftop seguimos para o Bellini e a sua maravilhosa ladies night que até nem foi má de todo porque a nova banda é boa e estavamos todos com o espírito.

Perto das 2 da manhã fomos para casa para eles acabarem de fazer as malas, depois de terem percebido que teriam de apanhar o barco das 4 da manhã. E assim me despedi da família, entre bocejos e as saudades que comecei logo a sentir.

(quanto ao inferno que deve ser sido a viagem e a espera de 12 horas em Helsínquia têm de falar com eles, embora saiba que andaram a dormir pelos cantos e até nas escadas de uma Igreja...)




A marta a fugir do dragão

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Beijing

(foto tirada com a minha nova lomo - guardas na praça de Tiananmen)

A chatice de fazer estes passeios meio a correr é que no fim temos a impressão de que vimos meia dúzia de coisas e para recordar tudo temos de recorrer a fotografias e ao relato no diário de viagem (eventualmente tive de fazer um para escrever estes posts). Sobram sempre (dos passeios) um ou outro momento engraçado e umas piadas private.

Partimos numa quinta-feira e chegámos à noite o que apenas deu tempo para pormos as coisas em casa do Filipe (o C13 que nos recebeu) e irmos logo para um bar num rooftop onde a música oscilou entre anos 80 e um ou outro house. Como a família estava cansada do turismo em Macau e eu das noites sucessivas em que dormi pouco, fomos a seguir para casa.

Day one: Acordámos e não querendo esgotar o stock de cereais do Filipe fomos logo para a cidade proibida na esperança de comer qualquer coisa por lá. Esperanças defraudadas, tivemos de nos contentar com umas bolachas de àgua e sal e àguinha compradas ao pé das bilheteiras numa barraquinha que faria qualquer roulote em Lisboa parecer o Tavares Rico. Entrámos na cidade proibida para só então perceber que iamos fritar ao sol e que não chegaríamos a lado nenhum sem um guia. Por isso, alugámos um daqueles guias com auscultadores (o que fez com que tivesse de ser eu a ouvi-lo o caminho todo e ir a debitar o que o senhor me dizia para uma audiência mais preocupada em tirar fotos giras do que a ouvir-me, isto ao mesmo tempo que eu dava as informações dos monumentos errados porque a Marta só a meio se apercebeu que estava a ver o mapa ao contrário).

A cidade proibida impressionou pelo tamanho que a meio nos fez acelerar o passo e desistir de saber para que é que aqueles pavilhões todos serviam. Além do mais as bolachas de àgua e sal mal deram para encher a cova do dente e estávamos todos a morrer de fome. Ainda assim seguimos logo para Tiananmen (mesmo ao lado), tirámos fotos ao pé do retrato do Mao (aquela foto clássica) e tentámos entrar na praça. Tentámos porque a praça estava fechada devido à comemoração dos 20 anos de Tiananmen e só deixavam entrar quem tivesse passaporte, o que não era o caso (com a excepção da Maria que entrou na praça em missão de fotógrafa, tirou umas quantas fotos e veio-se embora). Mas como estávamos mais preocupados com a fome e vímos que nos 2 km da praça não encontraríamos nada para comer apanhámos um táxi e apontámos para uma morada em chinês cuja tradução em inglês falava em bares (num cartãozinho que o Filipe nos deu e que nos safou várias vezes). Fomos parar ao pé de casa, isto depois de termos andado 30 min de táxi até à cidade proibida. Almoçámos no Mac (teve mesmo de ser) e seguimos para um dos bairros antigos da cidade (um hùtong).

O hùtong a que fomos orientava-se à volta da rua principal, Nanluogoxiang, onde passeámos, fizemos algumas compras, princialmente o Miguel que não podia ver uma loja de t-shirts sem ir logo a correr comprar duas ou três (brincadeirinha.... fomos nós que praticamente o obrigámos). Depois de comprar quinquilharias parámos numa micro-esplanada (só tinha lugar para os 4) e fomos interpelados por um jovem chamado pelo pai para vir falar com os estrangeiros. Demorámos uns minutos a entendermo-nos, menos pelo seu inglês básico do que pelo facto de ele estar totalmente à nora quanto ao porquê de o terem chamado.

Saímos do hùtong e apanhámos um táxi (que em Pequim são baratíssimos, tanto que nem fazíamos contas entre os 4, pagávamos os táxis à vez), e fomos ver os estádios olímpicos. Ainda tivemos de esperar um bom bocado para ver o Water Cube (aquele que parece uma carapaça de uma tartaruga mas às cores) a iluminar-se e ainda esperámos mais um bocado para só depois perceber que ele não ia mesmo mudar de cor. Os estádios situam-se numa praça infinita onde os Pequinenses (será?) andam de patins e passeiam (coisa inédita para mim que sempre que vejo chineses na rua eles protegem-se do sol com tudo o que tiverem à mão mesmo que seja só um envelope).

Depois de tirarmos umas fotos parvas (a fazer de budas e a saltar e a fazer V's e a sorrir à chinês) seguimos para casa e fomos todos juntos (mais os outros C13, e amigos deles) jantar numa tasca que bem tenta rivalizar com o nosso Cais 22 (as mesas estão no meio da rua entre carros estacionados) mas falha redondamente ter pratos em vez de tacinhas que ainda por cima já vêm lavados (no cais temos de os passar por àgua a ferver que vem num tupperware para a mesa).

Um jantar muito baratinho depois (aí ganhou ao cais 22) fomos a um bar de novo um rooftop que estava um bocado vazio e seguimos para a discoteca cargo, momento em que o grupo se dividiu devido a gostos musicais incompatíveis. A discoteca não era de todo má, dançámos um bocado, quase sempre rodeados por chineses e fomos para casa.

Day two: Ainda traumatizados com a fome matinal do dia anterior, decidimos não arriscar e fomos logo tomar o pequeno-almoço no sítio onde tínhamos almoçado, no Starbucks (que juntamente com o Mac são o melhor amigo do turista). Como a chuva que já se fazia sentir ameaçava continuar o resto do dia, fomos ao Yashow Market, uma espécie de Zhuhai comprar aquilo que o Miguel passou a denominar de ANORAK (palavra que já não ouvia desde a 4a classe e que passou a entrar em cada 2 em três das nossas conversas). Anoraks comprados seguimos para o temple of Heaven.

Isto de visitar templos tem sempre a piada de que raramente sabemos a quem é dedicado o templo, porque na China existem mil religiões e derivados (como o culto dos antepassados). Isto só não acontece quando no templo há um buda. No temple of heaven não há budas mas há coisas engraçadas. Tem uma espécie de praça redonda onde não existe mais nada senão uma pedra no meio. Por indicação do guia comprado a 1 euro na porta a Maria foi para cima da pedra falar. Nós na altura não percebemos a piada, mas indo lá para cima e falando ouve-se a própria voz como se estivessemos a falar ao microfone com um sistema surround. Mas o divertimento não acabou por aí. Mais à frente havia um muro que ladeava uns templos que produzia eco de modo a que uma pessoa falando de um lado do muro, quem estivesse do outro lado conseguiria ouvir. Os chinocas são engenhosos. Os antepassados, porque os de hoje em dia não perceberam a ciência da coisa e punham-se aos berros.... até o Miguel mandar calar um deles. À saída do templo vimos os chineses todos no parque a ocupar a sua tarde de sábado a cantar, a jogar a cartas e a jogar peteca (não sei se é assim que se escreve mas é um jogo com uma pena em que se dá toques tipo futebol). Nós fomos jogar com um grupo de velhotes e uma velhota que ficou toda entusiasmada perante talento demonstrado pelo Miguel. A Marta e a Maria saíram-se igualmente bem. Eu? Fiquei-me pela fotografia....

Como tínhamos de marcar a passeata às muralhas fomos a correr ver o Lama Temple (esse sim com muitos budas) que fechava cedo. Mais uma vez a morrer de fome vimos o templo num instante (entre outras coisas o maior buda esculpido numa peça única de madeira - tá visto que há muitos budas no guiness), e fomos comer a um tibetano porque estava ali mesmo à mão. Era tão mau que a Marta disse ouvir o som do micro-ondas a aquecer-nos o almoço.

A seguir fomos para casa, reservamos o passeio e com o Filipe como guia fomos para o Silk Market (outra Zhuhai). Mais uma vez o Miguel provou-se um shoppaholic de primeira categoria e só não ia comprando a barraquinha das imitações de ténis porque não cabiam na mala. Perante tanta coisa tão barata a tentação era grande mas ainda estavamos meio tímidos a comprar num rebate de consciência que fez o Miguel lançar o mote da tarde nas compras: quando em duvida compra. Assim acabámos todos com um par de ténis novos (e o Miguel com dois) entre outras coisas. Voltámos a casa para largar as compras todas e jantámos com o resto do pessoal em Huhai (lê-se rurai), uma espécie de docas à volta de um lago onde os Pequinenses (se não é assim, azar) dançam e jogam peteca. Depois disso foi procissão (porque erámos muito e era longe e eu estava de saltos) até ao hùtong a um bar e fomos para casa.

Day three: Wall day!! Partimos as 11 (depois de um farto pequeno-almoço num sitiozinho que encontrámos) e, depois de uma hora de autocarro em que viemos todos a dormir, chegámos a um sitio cheio de lojas (como seria de esperar) a vender desde fruta seca a miniaturas da muralha. Subimos de cadeirinhas (deixo à imaginação de cada um como é sair de cadeirinhas em movimento sem ser na neve). Passeámos na muralha (sobre isto não há muito a dizer, senão que é brutal, mas o melhor é verem as fotos), cansámo-nos, suámos, tiramos fotos (mais ou menos parvas), comentámos que era tudo muito bonito e depois fomos curtir a descida que era de tobogan. Com medo das invenções chinesas não fomos a abrir o que a julgar pela quantidade de pessoas a avisarem nos para abrandar pelo caminho foi uma decisão sensata. Entrámos de novo no autocarro depois de comer uns crepes numa roulote e fomos para uma consulta de medicina chinesa (daquelas para enganar turistas). Fizeram-nos massagens nos pés, (por uns chineses que não paravam de falar entre eles e que me parecia mesmo que estavam a gozar connosco) puseram-nos os pés de molho em chazinho, ouvimos do doutor que temos isto e aqiulo (fora eu que aparentemente não tinha nada) receitaram-LHES medicamentos caríssimos e alegremente fomos embora depois de outra massagem nos ombros.

Ao fim da tarde fomos a Wangfujing, que é o mercado das coisas esquisitas em Pequim (entenda-se, escaravelhos, escorpiões, cobra e todos aqueles animais que povoam a maior parte dos pesadelos e alguns episódios dos ficheiros secretos). O cheiro é inacreditavelmente insuportável, muitos dos bichos ainda estavam vivos e o nojo que estava a sentir fez me ficar tão mal disposta que nem seria capaz de comer a frutinha que também vendiam lá.

O jantar foi também uma tour a um dos monumentos de pequim: o pato. Fomos comer o afamado pato à pequim num restaurante ao pé de casa do Filipe e confere, é muito bom. A reportagem fotográfica ficou a cabo da Marta que tirou fotos do pato de todos os ângulos possíveis, antes de depois de trinchado. Findo o jantar foi tudo para casa.

Last day: Fomos ver o palácio de verão debaixo de uma chuva incessante. Por isso, quando lá chegámos, além do anorak tivemos de comprar uma daquelas gabardines feitas de saco de plástico, todas elas de cores fantásticas como lilás, amarelo e para o Miguel, verde caixote do lixo, que o fez parecer o assassino do "I know what you did last summer". O palácio de verão é uma construção gigantesca, cheia de pavilhões grandes e pequenos, jardins, mais pavilhões, um corredor enorme (giro para tirar umas fotos) e uns barcos para atravessar para a pequena ilha que tem no meio do lago enorme. Impressiona pela dimensão e pela opulência, chateou pela chuva que estragou as fotos-postal e nos encharcou até aos ossos. Depois foi apanhar um táxi, ir buscar as malas e regressar a Hong Kong e depois a Macau.

A minha parte das fotos: http://picasaweb.google.pt/cata.bandeira/Beijing?authkey=Gv1sRgCJHCzbK68YaihQE#

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Bandeira family in the house

Chegaram cansados mas animadíssimos. Chegaram Segunda de manhã e passaram o dia em Hong Kong, a ver o Buda e a comprar pechinchas. Chegaram, e finalmente, que as saudades eram muitas e a vontade de voltar a ver caras conhecidas ainda maior.

Fui buscà-los na segunda à tarde ao ferry e estavam os três de máscara menos pelo medo da gripe do que pela piada. Fomos logo para casa para eles se ambientarem e fomos jantar ao tailandês (numa iniciação calminha calminha às comidas do oriente). Seguimos para o Crown, para fazer de uma assentada a mostra das belezas de Macau. Subimos ao 38º andar e de uma só vez esgotámos a melhor vista de Macau e o sítio mais refinado que aqui existe.

No dia seguinte andaram a passear by themselves e passamos ao segundo nível de comidas chinesas: almoçámos no Dumpling Town, uma tasca de dumplings. Supreendentemente não se deixaram intimidar, provaram e gostaram de tudo e ficaram tão fãs de dumplings como eu (até a Marta, conhecida por ser incrivelmente esquisita no que toca a comidas). O choque cultural contudo, estava iminente e eles não escaparam a ver as cuspidelas no chão, os arrotos e todas essas pérolas da cultura chinesa que coleccionamos como cromos para trocar entre nós. Nessa tarde continuaram a passear e ao fim da tarde fomos todos à torre de Macau ver o pôr do sol e a vista lá de cima. Seguiu-se jantar no Nga Tim, outra tasca, desta vez na Ilha de Coloane. De novo, não se mostraram nada esquisitos e adoraram a comida, a Marta fartou-se de comer uns peixinhos fritos que parecem girinos e que eu nem chego perto. Depois do jantar fomos a um Irish pub e seguimos para casa que o turismo também cansa.

Quarta-feira: eles foram passar o dia a Hong Kong, e voltaram à noite para irmos jantar à tasca que é a pièce de resistence das tascas de macau: o afamado Cais 22. Após uns esgares de nojo perante os sacos de plástico a cobrir as mesas, os potes empilhados junto às paredes e a casa de banho apenas com um buraco, lá conseguiram apreciar a comida e até experimentaram búzios e canivetes do tamanho de um palmo. Aprenderam a jogar dados e a dizer cerveja em cantonês.
Depois fomos ao bellini para eles apreciarem a maravilha que é a noite de Macau. Seguimos para casa porque quinta era dia de partida. Almoçamos no iam cha no hotel Sintra, que mais uma vez conquistou fãs pela mesa toda e fomos para Hong Kong apanhar o avião para passar 4 dias em Pequim. Mas isso fica para o próximo post.



No cais 22
A jogar dados




sexta-feira, 29 de maio de 2009

My umbrella

Juntem 19 mil pessoas por km2 a uma cidade com ruas pequenas e passeios microscópicos. Adicionem chuva, da mais variada, desde chuvadas ensurdecedoras a uma espécie de vaporização de àgua. Dêm às pessoas guarda-chuvas e muito pouca preocupação com o bem estar alheio.

Resultado? Um bailado diário de guarda-chuvas em que a perícia de cada um se mede na capacidade de equilibrar o seu e ao mesmo tempo se desviar das investidas de guarda-chuva hello kitty, doraemon, com folhos ou às bolinhas. Depois, quando nos deparamos frente-a-frente com alguém, trocam-se olhares de desafio para ver quem é que cede e passa por baixo. Ou, como é mais frequente, encontram-se os kamikaes, que não kerem saber e avançam pela multidão incauta, espetando varetas nos olhos alheios. É bonito.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Alforreca e gripe suína

O meu trabalho tem muito de pouco assinalável mas proporciona-me momentos de grande humor (ou momentos de levantar a mão à testa, depende de cada um). Claro que nisso tem mais mérito o facto de estar na China do que propriamente o meu trabalho, mas permaneço optimista esperando ainda assim momentos como aquele em que num jantar de uma feira experimentei uma grande iguaria na china: alforreca (sim, MESMO alforreca). Devo dizer que não sabia propriamente a grande coisa, mas a textura é positivamente horrorosa, uma espécie de gelatina envolta numa pelicula qualquer que não se consegue trincar por muito esforço que se faça. A soluçaõ é empurrar tudo com um copo de àgua e fazer um sorriso "óh p'ra mim que comi alforreca porque gosto mesmo destas coisas exóticas!" para a fotografia.

As feiras são um grande acontecimento no mundo empresarial chinês: servem muito menos para fazer negócios do que para mostrar ao mundo a grandiosidade da China: o maior centro de convenções, o maior pavilhão, o melhor banquete. Na feira do ambiente havia empresas cuja contribuição para a causa ambiental oscilava entre terem alguns carros hibridos na frota comercial ou terem desligado a luz da casa de banho quando não a usam. As feiras também servem para que os membros do executivo sejam passeados pelo recinto, dando o seu aval a tudo, cortem umas fitas e tirem umas fotografias em conjunto. Tudo perante uma pequena multidão e ao som de muitas palmas.

Na mais recente feira a que fui, a Hofex, a feira de hotelaria em Hong Kong, reparei na preocupação em ter desinfectantes em todo o lado por causa da gripe suína. No metro, há pessoas que ganharam um emprego graças à gripe, a desinfectar os corrimões. Toda a gente anda meio assustada com a gripe e isso criou um clima de suspeita face a qualquer pessoa que ouse espirrar em público: é logo bombardeada com olhares de soslaio e um virar de costas meio discreto. No nosso prédio os botões do elevador estão cobertos com uma película plástica que a gestão do condominio anuncia que devem ser mudados de 2 em 2 horas. Nas fronteiras, as câmaras térmicas expiam a nossa temperatura e quando fazemos check in num hotel medem nos também a febre. Mas esta preocupação não impede que continuem a ter o ar condicionado em temperaturas àrcticas em todo o lado e que continuem a cuspir para o chão a despeito de qualquer gripe, ou qualquer outra questão higiénica.


Alforreca (é a coisa esbranquiçada que parece cebola aos bocados)

domingo, 17 de maio de 2009

Praia e paparazzi




Quando pensava que o choque cultural tinha atingido o seu auge nas escarradelas das quais me tenho de desviar nos passaior, eis que me deparo com outra faceta dos chineses que sendo menos comum é possivelmente bem mais incomodativa.

Há dois fins-de-semana a maior parte da grupeta aqui de Macau decidiu ir a Hong Kong ver nouvelle vague e fazer uns dias de praia, que as semanas debaixo da luz fluorescente e sem ver um raio de sol were taking it's tole. Eu como tinha estado a trabalhar em Hong Kong na sexta feira, dormi por lá para ir aproveitar Sabado de manhã a praia.

O meu total desconhecimento das praias em Hong Kong paguei-o bem caro: após estar algumas horas ao sol em Repulse bay, naqueles que foram dos momentos mais felizes desse dia, vejo chegar hordas de chineses da china continental - soube que era essa a sua proveniência não só porque tinha quem mo dissessse, mas porque poderia facilmente adivinhar pelos bonés vermelhos da excursão ou pelas roupas de gosto duvidoso - que invadem a praia com as suas sombrinhas e munidos de máquinas fotográficas.

Como se o facto de estarem na praia totalmente vestidos e à sombra não fosse suficiente (o pânico de apanharem um raio de sol aproxima-os assutadoramente dos vampiros), perante o espectáculo das poucas pessoas que ali estavam a apanhar sol, decidem documentar este comportamento bizarro sem qualquer pudor. As maiores vitimas foram as inglesas, que com as suas peles brancas e cabelos louros provocam neles um fascínio que fez esgotar a já escassa vergonha que têm e irem pedir-lhes para tirar fotografias com eles. O reportório fotográfico incluiu assim qualquer pessoa em fato de banho, a entrar ou sair de àgua, mais ou menos velha, homem ou mulher. O denominador comum era o traje de banho e a manifesta felicidade nessa actividade estranhíssima que é o "fazer praia".

Claro que o constragimento foi suficiente para me pôr a tirar-lhes fotos também e passado uns minutos ter desistido de apanhar mais sol.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tokyo



Vou tentar fazer um relato da viagem a Tokyo sem ceder à tentação de, perante o deleite totalmente babado que senti, dizer simplesmente que "é tudo muito giro" (mas é mesmo).
Desta vez, depois do trauma de yangshuo, partimos do aeroporto de hong Kong, o que é muito mais simpático do que fazer a viagem de volta de shenzhen. Chegados ao aeroporto de Narita, das primeiras coisas que reparo são as exposições de arte no aeroporto: pratos e têxteis e outras mostras de cultura, que só ali permaneciam por estarmos no Japão: em Portugal duvido que durassem um dia. Do aeroporto até à cidade vai-se de city limousine, o que é apenas um grande elogio a um autocarro. Nessa noite, totalmente exaustos, pouco mais fizemos do que procurar a casa da Elma, a C13 que nos recebeu na sua residência, desfazer malas e cair na cama.

Day one: acordámos cedo, mesmo mesmo cedo, e fomos para os jardins do palácio imperial, depois de breves momentos de pânico a olhar para a planta do metro, que mais parece um desenho de um miúdo de 6 anos a quem ofereceram demasiados lápis de cera. Como o metro ao que parece tem truques (há duas companhias que gerem aquilo e os bilhetes não dão para tudo) comprámos passes de um dia para não haver mais chatice. No metro comecei a reparar naquilo que viria a ser o que sempre que me perguntarem por Tokyo vou responder: é o lugar mais civilizado do mundo. De facto, existem cartazes a pedir para as pessoas não falarem ao telemóvel, porque incomodam os outros passageiros (na china pedem para não cuspirem no chão....), como se o metro fosse uma espécie de retiro onde os japoneses aproveitam para meditar um poquinho antes de chegar a casa.

Para grande desilusão nossa os jardins do palácio estavam fechados, pelo que decidimos ir ao templo de Senso-ji. O templo está muito bem preservado, aliás como quase tudo em Tokyo, mas também não escapa ao aproveitamento económico da afluência de turistas: até chegar ao templo existem centenas de barraquinhas a vender souvenirs de toda a natureza: desde as tradicionais sandálias de madeira que se usam com a meia branca até a perucas com a forma dos cabelos dos samurai. Visto o templo, passeamos pelos jardins adjacentes.

Como estávamos numa onda zen fomos a mais um jardim, o parque Ueno, onde vimos muitos pequenos templos, todos com o seu kit lava-mãos à porta que não só ajuda-nos a purificar antes de ir ao templo, como é bom para aliviar do calor.

Mais uma voltinha de metro e fomos a Omote-sando, uma zona de lojas, estilo baixa, menos os graffitis e a decadência das lojas dos chineses. As ruas têm todas canteiros com flores, ninguém, mas mesmo ninguém apita, ou acelera nas passadeiras, as casas antigas estão preservadas e as lojas mais modernas (as pradas e guccis e companhia) são cada uma delas uma obra saída de um qualquer livro de arquitectura. Por todo o lado vão-se vendo japoneses muito bem vestidos, cheios de pinta, como um catálogo de estilos de roupa, em que cada um é o arquétipo do estilo punk, intelectual e até surfista. Como a tentação de entrar numa das milhares de lojas fantásticas se estava a tornar muito forte, saímos dali e fomos a Shibuya.

Shibuya é um dos centros de Tokyo, onde fica o famoso cruzamento que aparece no "lost in translation", filme que fiquei a perceber muito melhor desde que vim para o Oriente. O dito cruzamento é mesmo impressionate: milhares de pessoas ficam à espera nos passeios, e mal abre a luz verde, a barreira solta-se e toda aquela gente se cruza apressadamente, num aparente caos mas onde ninguém choca, para depois recolherem aos passeios e em menos de 10 minutos está a estrada de novo deserta.

Day two: Madrugámos às 4.45 da manhã para ir ao mercado do peixe. Ainda meio a dormir entrámos no recinto do mercado, para logo ser obrigada a abrir bem o olho perante os carros de transporte do peixe que deslizam por todos os lados sem se pareceram importar muito com os traseuntes. O atum é de longe o peixe que mais se vê por lá: leiloam-nos, cortam-nos com espadas, e vendem-nos por todo o lado. Tal como os atuns, tudo o que se vende no mercado é de tamanho XL: vimos japoneses a matar peixes do tamanho de um braço, marisco semelhante a mexilhões do tamanho da palma da mão e caranguejos com patas maiores que muitas santolas da portugália. Fomos também experimentar o sushi fresquíssimo que se vende nuns restaurantes perto do mercado. Embora a perspectiva de comer sushi às 7 da manhã anime pouca gente, devo dizer que vale tanto a pena que estavam até muitos locals na enorme fila para entrar. Claro que algumas das coisas que serviram não fui capaz de comer: ter mini-lulas inteiras num rolo de suhi, com olhinhos, com ar de que se vão mexer a qualquer momento e a olhar para mim, lamento mas é demais.

Saímos do mercado, passeámos por Ginza, mais uma zona de lojas caras, a 5th avenue de Tokyo e fomos de novo tentar a sorte nos jardins do palácio imperial.Desta vez os jardins estavam abertos e a tranquilidade do lago, das àrvores e das flores e somar às poucas horas de sono fez o apelo dos banquinhos de jardim irrresistível e ali descansámos um bom bocado. Como um jardim nunca vem só, fomos a seguir ao parque Yoyogi, onde vimos um jardim zen daqueles de areia, uma espécie de missa no templo, e um teatro japonês que estava a decorrer. A julgar pelos risos da plateia, era uma comédia e até bastante engraçada, mas como passados uns minutos percebi que não ia mesmo entender nada, desisti e fiquei a aobservar as pessoas que vão rezar ao templo: depois de fazerem a sua doação para uma estrutura de madeia com grades para acolher as moedas, fazem umas vénias e batem duas palmas com as mãos abertas como as crianças, e depois fazem mais umas vénias. Vê-se também muitas das senhoras mais velhas com o traje tradicional, completo com sombrinha, meia branca e chinelo.

Depois do templo fomos a Akihabara, o ponto de encontro dos geeks de Tokyo: por todo o lado existem lojas de electrónica, raparigas vestidas de personagens de animé, lojas de filmes e revistas de manga, etc. Seguimos então para Shinjuku que é uma espécie de world trade centre mas que convive side by side com um bairro bastante mais obscuro, com lojas estranhas, casas de massagens duvidosas e escadas descem para os confins de estabelecimentos de qualquer coisa. Mas no meio dos dois, como uma fronteira entre estes dois mundos encontram-se ruas claustrofobicamente pequenas, ladeadas por restaurantes que não são mais que um balcão e meia dúzia de cadeiras: as tascas japonesas, frequentadas quase exclusivamente pelos locals. Estes são sempre simpáticos perante os nossos nada discretos flashes, espírito que deve derivar da paixão que eles próprios têm por tirar fotos a tudo. Esta simpatia estende-se por todo o lado: assim que entramos em qualquer loja os empregados gritam algo como "irashaimase" a plenos pulmões, o que, longe de ser qualquer espécie de insulto, é na verdade um caloroso mas intimidativo "bem vindo!". Além do mais, fazem vénias a por tudo e por nada (sendo o nada por exemplo as vénias que os empregados das bagagens fazem quando o autocarro parte).
Após anoitecer, fomos à torre de tokyo (uma espécie de torre eiffel) ver a vista lá de cima, que é sempre impressionante e depois seguimos para Roponggi, a zona dos bares e discotecas. Como o price range era um pouco acima do normal, demos umas voltinhas e fomos para casa.
Day three: Como andámos a correr por Tokyo inteiro nos dias anteriores decidimos ter uma manhã mais calma e fomos ver o museu Edo-Tokyo, um museu sobre a cidade antiga, desde a sua fundação até à segunda guerra mundial. É um museu muito interactivo, cheio de maquetes, artefactos, e tem até um sitio para experimentarmos o peso dos baldes de àgua que eles transportavam às costas. Como ainda tinhamos umas horas decidimos ir a Harajuku, que é onde se vê uma faceta dos Japoneses menos comum: os jovens vestidos de personagens de manga, que se pavoneiam pelas ruas, debaixo dos constantes flashes dos turistas. São cabelos loiros, unhas postiças, fatiotas saídas de um qualquer videoclip de heavy metal, muita maquilhagem e acessórios a condizer. É um fenómeno estranho que suspeito que funcione como um escape a tanta civilização. Depois disto, foi apanhar a limo bus de novo e avião até Macau.
Todas as fotos:

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Giro giro

É ser empurrada para dentro do autocarro, ficar entalada entre dois chineses para depois levar com a porta na cabeça e os insultos do condutor. E perante a travagens nada simpáticas do senhor condutor, a Inês fazer uma pirueta ballet-style e cair para cima de um chinês e eu arrastar os óculos de outro perante outra travagem sem aviso.

É fazer sopa com pepinos porque achávamos mesmo que aquilo verde que comprámos no mercado era courgette.

É ter os senhores taxistas a mandar vir connosco porque não sabemos dizer em cantonense a rua do nosso trabalho. E não perceberem quando dizemos em cantonense a morada de casa.

É chatear-me um chinês por qualquer coisa para depois aperceber-me de que ele fala português. E ter senhoras nas lojas de beleza a impingirem whitening creams porque acham que eu estou morena demais (quando na verdade eu estou mais verde que outra coisa)

É os condutores desviarem-se de nós nas passadeiras, andarem em contra-mão, passarem por cima de raias e desconhecerem a utilização do pisca e os polícias olharem para outro lado. Mas se um gato morre na ponte lá estão dois polícias de guarda a colocar pinos de segurança.

É ouvir música coreana e chinesa aos altos berros ao fim do dia no trabalho quando o escritório já está vazio.

Coisas giras se passam em Macau.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Yangshuo



Foi certamente esta paisagem que inspirou os senhores que desenharam o planet Namek do Dragon Ball e outras peças de cultura menos populistas como aqueles poemas épicos Chineses. Se a pintura Chinesa tomou a forma daqueles traços leves quase etéreos foi com certeza para transmitir a neblina que quase sempre envolve os montes que rodeiam o rio Li. Porque toda aquela beleza imensa e forte impõe-se sobre todos os que a rodeiam.

A nossa viagem começou no barco de Macau para o aeroporto de Schenzhen, que fica já na China continental e onde tivemos de esperar umas 4 horas pelo voo porque o último barco para o aeroporto era cedo demais. Depois de uma hora de voo até Guilin, o taxista do hostel lá nos foi buscar e aterramos num quarto que nos padrões europeus seria um 3 estrelas.

No dia seguinte planeávamos passear por Guilin mas fomos desde logo desencorajadas pelas ruas imundas, os prédios sem qualquer preocupação em parecerem bonitos, um KFC em cada esquina. Fomos, no entanto, interpeladas por um chinês, o sr. Lee que trabalhava no Holiday Inn e falava muito bem ingles, e que nos levou para tomar um pequeno-almoço ocidental numa varanda com vista para o rio Li, aconcelhou-nos uma tour pelo rio até Yangshuo e antes de nos meter no minibus levou-nos a uma casa de chá para bebermos um cházinho (nuns copinhos mesmo pequeninos) e testemunharmos a cerimónia do chá. Depois disso foi entrar no mini bus, daqueles que nos fazem interrogar por onde andou e quem carregou lá dentro até um cais onde apanhámos uma barcaça que deveria ser de canas de bambu mas era na verdade de tubos de pvc (!!!). O passeio foi tranquilo, fora uma paragem a meio para carregar uma fámilia de chineses, que nos fez encostar à margem e quase virar o barco por causa das ondas. Depois do barco, mais um mini bus, desta vez aberto, mais um autocarro à pinha e lá chegamos a Yangshuo.

Yangshuo é, segundo o lonely planet da China (essa nossa bíblia), muito mais uma cidade internacional de climbers e trekkers que uma aldeia chinesa. Confere. Pelas ruas da vila vê-se imensos ocidentais, todos com um ar impecavelmente saudável de quem salvaria um desconhecido no meio do tsunami sem se despentear, muitas famílias, e também muitos turistas chineses. A vila está bem preparada, com barraquinhas a vender souvenirs, restaurantes com ementas que vão da pizza aos noodles em duas páginas, e hotéis e hostels baratos mas muito bons.

A nossa guia - a Shandy ou Sandy ou o que nos saisse no momento e que fosse parecido com isso - uma ex-camponesa que cedeu à tentação do turismo em vez de continuar a apanhar arroz, fez-nos logo um plano para os dias seguintes. Nessa noite, fomos ainda ver um espetáculo (Impressions) no meio do rio, uma espécie de cirque du solei à chinesa, com milhares de figurantes a compensar a pouca espetacularidade dos movimentos em si mas que ainda assim é impressionante. Para lá fomos na mota do irmão da nossa guia, eu e a Inês à pendura numa mota no meio do tráfego chinês (acho que não preciso de dizer mais nada).

No dia seguinte, alugámos umas bicicletas (a 20yuans cada - aproximadamente 2 euros) e fomos dar uma volta no countryside, para depois apanharmos umas canoas (estas sim de bamboo) e fazermos aquilo que eles chamam rafting (que é na verdade passar umas mini- barragens de cimento no meio do rio). Mas a paisagem é fantástica e ao longo do caminho vão se vendo os pescadores com os corvos amestrados que eles usam para apanharem os peixes e os trazerem para os barcos. Os corvos são criados desde bebés com o pescador e têm uma argola no bico para não conseguirem comer os peixes. Por seu turno, o pescador alimenta o corvo com pedaços pequenos que ele consiga comer. Juntos, na canoa, com o pescador com aquele chapéu típico, formam o cenário que todos esperamos ver quando vimos à China.

De novo em terra fomos subir o moon hill, uma montanha que tem no topo um arco em rocha com um buraco no meio. Porquê moon hill? Não sei.... os chineses gostam muito de ver formas de objectos em coisa nenhuma e se calhar na China não existem arco-íris. A subida faz-se por degraus, o que é bastante tranquilo até à base do arco (arco esse que é escalado por alpinistas até ficarem com o corpo paralelo ao chão). Eu ainda quis subir ao topo do arco, ao que a guia me avisa que o caminho não tem escadas e está todo enlameado. Nada desanimada pela falta de folêgo que me fez parar inúmeras vezes durante a subia, e armada em lara croft, fui subir sozinha até ao topo do arco. Para cima tudo bem, para baixo, os santos não ajudaram em nada: a meio de uma rampa um pouco mais inclinada, mão numa rocha escorregadia, pé no meio da lama, cálculos mal feitos e estou eu a escorregar pela lama abaixo sem pudor nenhum pelas calças e pelos ténis novos. Claro que o resto do caminho fui um belíssimo espetáculo para quem se cruzou connosco. Mas a vista fez tudo valer a pena.

Nessa noite jantámos com os companheiros de viagem que chegaram nessa tarde, para acordar no dia seguinte com uma intoxicação alimentar que me prendeu à cama, e ocasionalmente à borda da sanita, durante o dia inteiro.

No último dia, apenas com uma torrada e duas colheradas de arroz branco no estomâgo acompanhados de comprimidos chineses, fui visitar as cavernas do buddha, umas cavernas tipo mira d'aire mas muito maiores e muito menos iluminadas. Para não desiludir, o nosso guia foi-nos mostrando as formações rochosas apelando à nossa imaginação para que víssemos num amontoado de rochas um macaco, um pé, uma mulher a tomar banho, uma borboleta. - Quantos anos tem a gruta? Que é que isso interessa!! - Quem descobriu? Sabemos lá... Ah, mas aquela rocha parece mesmo uma alforreca. Claro que a meio estava a ver-me a vomitar para cima do "pé" ou do "pescador que não comeu o peixe todo e o deixou a secar". Ainda fui levada às cavalitas pelo guia chinês por à quarta vez de me pedirem para tirar os ténis para atravessar um riozinho me recusar a fazê-lo e ameaçar voltar para trás. Depois disso desistiu de me perguntar o que é que eu achava que a rocha parecia.

No meio da gruta existem umas piscinas de lama onde se pode "tomar banho" e umas hot springs para o mesmo efeito. Não experimentei nenhuma, com medo que um movimento digestivo mais traiçoeiro impedisse o resto das pessoas de gozar o seu banhinho.

Após sair das grutas e comprar umas sandálias de ráfia a uma velhota por 10 yuans (sim 1€, e custavam 0,50€) voltei para o hostel, e de novo com a Inês decidimos dispender o resto do nosso escasso orçamento numa viagem de balão, porque o dia estava bonito e porque a perspectiva de poder vomitar a 400m de altitude me pareceu deveras engraçada.

Depois de mais um passeio de mini bus (eles aqui gostam mesmo dos mini bus) fomos parar a um descampado onde os senhores pilotos enchiam os balões. Com o balão já cheio, entrámos para o cesto para só então perceber que íamos assar o resto do caminho inteiro com o fogo que põe o balão no ar. O voo foi muito tranquilo, partilhado com dois americanos e uma americana, alpinistas, com quem fomos a fazer um bailado de troca de lugares para todos vermos de todos os lados do balão. Por duas ocasiões íamos esbarrando (pensámos nós) contra os penhascos, mas a mestria do nosso balonista, vestido de fato de macaco à top gun, impediu que o pior acontecesse. Entretanto o vento tornou-se mais forte, o que nos impediu de aterrar no local previsto pelo que nós perguntámos: - Where are we going to land? - ao que ele responde - Dunno. Don't woly, it's ok. Tão ok que acabámos por aterrar no meio de um cemitério, num impacto que foi já de si bastante forte (tenho uma nódoa negra no joelho para o comprovar), mas que acabou por fazer o balão voltar a erguer-se no ar e dirigir-se para uma laje no meio do cemitério. Nós já a ver o filme todo do cesto arrastado pelo balão, a bater na laje e o resto..... nem quisemos imaginar. Felizmente o cesto bateu efectivamente na campa mas rodou e acabou por parar. Logo a seguir começaram a parecer de todos os lados crianças e velhos para vir ver a atracção do momento: um balão com 5 estrangeiros aterrados nas campas dos avós deles.

Nessa mesma noite regressámos a Macau numa viagem que demorou quase 10 horas (só uma de avião) e cujo roteiro foi o seguinte: taxi (1h10) até guilin, avião em guilin, sair em shenzhen, já não há barco para macau, táxi até à fronteira de huangang (45min) atravessar a fronteira (30min) apanhar um autocarro até à fronteira do lado de hong kong, entrar noutro autocarro até ao centro de hong kong (1h), apanhar um táxi até ao ferry, apanhar o ferry das 4 da manhã porque perdemos o das 2.30 por 2 minutos, chegar a macau, passar a imigração e táxi até casa. E assim chegámos, eram 5 e tal da manhã a casa, para ir trabalhar no outro dia.

As fotos por serem muitas estão todas aqui para quem quiser dar uma olhadela:


terça-feira, 7 de abril de 2009

Sightseeing em Macau

Tenho aproveitado os fins de semana em que não há viagens planeadas para descobrir os recantos a Macau.

Existem imensos templos espalhados pela cidade, onde os residentes fazem as suas oferendas aos deuses, rezam, e encomendam felicidade e prosperidade, pagando com incensos gigantescos, que na maior parte das vezes infestam os templos de um cheiro quase insuportável. O principal templo em Macau é o templo de A-Ma que fica perto do mar.

E agora um bocadinho de história: Especula-se que o templo foi construído pelos pescadores chineses residentes de Macau no séc. XV, para homenagear e adorar a Deusa A-Má (Deusa do Céu), chamada também de Tin Hau, Mazu ou Matsu. Esta divindade taoísta é muito venerada em todo o Sul da China e em várias partes do Sudeste Asiático e é considerada como a protectora dos pescadores e marinheiros. Crê-se que os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Macau, possivelmente no ano de 1554 ou 1557, precisamente à entrada do Porto Interior, também chamada pelos pescadores chineses de "Baía de A-Má". Segundo as lendas do séc. XVI, o nome da Cidade deriva precisamente da palavra em cantonense"A-Má-Gau", que significa literalmente Baía de A-Má.

O templo é uma confusão de incensos, panchões inteiros, restos de panchões rebentados, oferendas, mais incensos, velas, estátuas e figuras, mais incensos. Outro templo que já visitei, o Kun Iam Tong é sensivelmente a mesma coisa, o que acaba por tornar os templos como as vacas nos Açores (apesar de eu nunca ter estado nos Açores): é muito giro ver a primeira, a segunda tem piada e à terceira já não queremos ver mais vacas à frente. E em Macau há imensos pequenos templos espalhados pela cidade. Para ser justa perante a liberdade de cultos que aqui se vive também não faltam igrejas. Mas dessas também já vi muitas.


Este é o jardim que se encontra por detrás da praça do Tap Seac. Apesar de estar bastante destruído (o está lago praticamente vazio) é ainda assim muito engraçado. As curvas e contracurvas da ponte servem aparentemente para desviar os maus espíritos que não devem ter muita agilidade na perseguição.

Ao pé das ruínas de São Paulo, temos a fortaleza do monte e o museu de macau, que também ja visitei em duas ocasiões diferentes. O museu de macau é muito interessante e nada aborrecido, com imensas maquetes e expositores interactivos para por exemplo ficarmos a conhecer o ritual de casamento macaense (muito complexo, pesquisem). A vista de cima da fortaleza é impressionante: temos diante de nós todos os contrastes de macau: o bairro de lata e o casino, os predios chineses, os prédios ocidentais, o tradicional e o moderno.
O museu de macau
A vista do topo da fortaleza

Na ilha da taipa fui às casas-museu, que so visitei por fora mas que ainda assim valeu a pena. A vista é engraçada e as casas têm um aspecto colonial que caberia perfeitamente no livro Equador (apesar de ser noutro continente), no meio das tardes de calor infestadas de mosquistos, onde o ar não circula e a húmidade quente acarinha a inércia.
Nas casas museu

Coloane é dos lugares mais bonitos de Macau. A uns meros 15 minutos do centro, parece que entramos noutra dimensão. Ali, o brilho dos casinos não tem lugar, e a vila vai permanecendo longe da especulação imobiliária conservando ainda um carisma de vila de pescadores. Existem, claro, mansões luxuosas e barcos e carros grandes, mas as zonas verdes ainda são vastas e a calma impera, o que alivia da confusão cosmopolita de Macau. Fui visitar os estaleiros navais, meio ao abandono, e uma esplanada de um restaurante italiano.
A vila de coloane
Os estaleiros navais

As futuras incursões pelas atracções de Macau deverão incluir o farol da guia, mais umas igrejas e outros tesouros. I'll keep you posted

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O trabalho na China

O conceito de trabalho aqui na China é completamente diferente daquele que temos na Europa. Trabalhar enquanto o acto de exercer actividade é comum, mas a questão da produtividade ou relevância desse trabalho é perfeitamente irrelevante. O trabalho é visto (suponho eu) como forma de entreter as pessoas e dar vazão à crescente população da China. Por isso é mal pago, por isso vemos gente a mais a fazer trabalho a menos.

Passo a demonstrar o que quero dizer: quando se apanha o barco para Hong Kong, na zona onde verificam os bilhetes temos quatro pessoas a realizar quatro funções extremamente importantes: uma risca o bilhete com um lápis de cor verde, a outra corta o canhoto do bilhete, a terceira empilha os canhotos e a última ficaliza a actividade, não vá alguém por engano riscar o bilhete com um lápis vermelho ou quiçá aldrabar as pilhas de canhotos.

Descendo as escadas para embarcar temos mais duas pessoas a indicar qual será o porto de embarque, porque olhando para o gigante ecrã luminoso seria muito difícil chegarmos lá. Ainda antes de entrar no barco temos mais um senhor que atribui os lugars do barco com pequenos autocolantes, o que seguramente não poderia ser feito por um computador nem por um dos verificadores de bilhetes. Era muito confuso.

De vez em quando vemos uma ou outra pessoa especada no meio do hall numa honestidade imensa perante aquilo que provavelmente lhe mandaram fazer: nada.

Exemplos destes encontram-se em todo o lado: demasiados empregados num restaurante, lojas de roupa com mais gente a atender do que a comprar, etc.

E depois gera-se um ciclo vicioso: os casinos empregam muitas pessoas sem grandes qualificações, o que faz com que os jovens desistam de estudar para ir trabalhar para qualquer lado, o que multiplica por necessidade estes postos de trabalho para encher chouriço. Ainda estou para ver como é que este sistema se vai aguentar à crise.

domingo, 29 de março de 2009

Elogio da China

Já fiz alguns posts a comentar as particularidades de Macau, quase sempre as piores. E percebi que negligenciei tudo aquilo que há de bom (a sério...há mesmo)

Como já tinha dito, Macau é muito seguro. Nunca ouvi falar de um assalto, de um roubo por esticão (nem por outras formas), de crimes violentos de qualquer espécie. Nunca senti nenhuma espécie de insegurança, aquele friozinho no estomâgo e aquela ugência em acelerar o passo e olhar discretamente à minha volta, que às vezes sinto em Lisboa.

As ruas, como também já comentei, são limpas de dejectos caninos. As pessoas que passeiam os cães, de alguma forma conseguiram educar os animais (à custa de muita paulada suponho) a aliviarem-se para cima de papéis de jornal que depois apanham e deitam fora. Até quando os cães fazem xixi eles deitam um pouco de àgua por cima para tentar lavar a rua. Ñós, que nos dizemos um país civilizado, andamos na rua de olhos colados ao chão, a fazer desvios de toda a porcaria que encontramos nos passeios.

A comida também é muito boa. Apesar do aspecto algo sinistro de algumas tascas, e de sempre que lá vou tentar não olhar muito para a cozinha, grande parte do que provei gostei imenso e confesso que já sou fã. Da outra parta é melhor não falar muito. Os dumplings (pequenos bolos de massa de arroz com vários tipos de recheios) os noodles, os vegetais, têm todos um sabor que nos é estranho mas que depois se entranha. E as questões de higiene provaram ser secundárias, porque ainda não tive ameaça de problema intestinal. Além do mais sabe bem não acabar de almoçar tão cheia que só apetece dormir. Também há imensos "estabelecimentos de comidas" (a.k.a restaurantes) onde servem fruta acabada de cortar, em sumos, batidos ou cortados em pedaços, a um preço impossível em portugal. No Verão cheira-me que vou-me tornar grande cliente.

Também já tinha falado do espírito reservado dos Chineses (exceptuando claro quando está em causa um lugar sentado no autocarro). De facto, os Chineses são tão reservados que sempre que abordo alguém que não fala inglês (o que é claramente 99% das vezes) eles encolhem-se naquilo que eu penso ser vergonha (ou desprezo na linguagem corporal chinesa) e vão chamar alguém que fale. Outras vezes simplesmente ignoram e passam a frente, o que passando por má educação é menos frustrante do que ter pessoas que nos respondem em cantonense e que por mais que expliquemos que não, não falamos cantonense (num gesto que inclui apontar para as orelhas e fazer figura de idiota) continuam a falar alegremente. No entanto, esta reserva faz com que não seja cansativo cá estar: não somos abordadas, não nos chateiam, não nos perguntam se queremos ajuda sempre que entramos numa loja e isso é um alívio. Ninguém troca olhares na rua, ninguém se mede uns aos outros, ninguém lança piropos. Desconfio que se uma pessoa andasse nua na rua eles não olhavam duas vezes.

No entanto, apesar de toda esta reserva encontra-se pessoas muito simpáticas: alguns taxistas que se entusiasmam imenso perante o facto de conseguirmos dizer algumas palavras em cantonense; as senhoras do mercado, que debitam toda a lista de frutas e legumes que sabem dizer noutra língua que não a delas; pessoas na rua que nos ajudam quando andamos perdidas de mapa na mão e com 5 caracteres chineses escritos num papel que só depois descobrimos não formarem o nome da rua onde queremos ir.

Em Macau, por todos os jardins e praças há equipamentos de exercícios que velhos e novos usam para se manter em forma. É aliás muito comum de manhã se ver os mais velhos a praticarem tai chi nos jardins, com paus a servir de espadas. De vez em quando vou correr para o reservatório onde há muitos desses aparelhos públicos de ginástica e toda a gente os usa. E fazem-no muito mais por uma questão de saúde do que de beleza, o que é de louvar. Deve ser por isso que em Macau toda a gente aparenta ter metade da idade real. Parece que o ar tem formol ou qualquer coisa do estilo.

Por outro lado, quase não existem mendigos em Macau. Pelo que percebi isto só acontece mesmo em Macau, onde a explosão dos casinos arrastou toda a economia para uma prosperidade que está longe de existir de forma tão homogenea na China. Assim, ao contrário do que acontece por exemplo em Hong Kong, praticamente não se vê pessoasna rua a pedir, algo que só reparei quando na zona dos bares em Hong Kong tive um senhor a agarrar-me no braço a pedir dinheiro: é o tipo de constragimentos que aqui não temos. Claro que na China continental a história é outra.

Depois Macau, pelo seu tamanho, tem todas as particularidades de uma cidade pequena: já conhecemos algumas pessoas que connosco apanham o autocarro de manhã, a senhora do quiosque onde vamos todos os dias já nos conhece, e apesar de proferir apenas um ou duas palavras em inglês esforça-se por ser simpática. Por apenas haver um ou dois espectáculos culturais por mês tentamos ir a todos por mais que nunca tenhamos ouvido falar do artista. Já vamos conhecendo os cantos à casa e as ruas e as zonas tornam-se familiares, o que a julgar pelo meu sentido de orientação nada apurado, demoraria anos a acontecer numa cidade grande.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Por estes dias

Por estes dias o tempo em Macau tem andado meio louco: uns dias faz um calor insuportável, que aliado à húmidade intensa torna qualquer aventura de passeio um desafio herculiano. A roupa cola-se ao corpo e sentimos a pele peganhenta como se estivessemos a correr dentro de uma sauna. E ainda não começou o Verão! (Começo a temer as viagens de autocarro logo de manhã). Outros dias faz frio, nos outros chove. O sol vê-se pouco, está quase sempre nublado.

Por isso mesmo, há poucos restaurantes com esplanada. Na noite dos anos da Joana (uma das minhas flatmates) fomos a um restaurante que é o cais 22 que tem esplanada. Restaurante é elogio, porque aquilo era na verdade um tasco que em qualquer parte do mundo uma qualquer ASAE fecharia sem sequer dar dois passos para lá da porta. Como estava uma ventania enorme nessa noite acabámos por não ir para a esplanada, o que eu agradeci porque ao que parece vagueiam por lá ratos e baratas com um à vontade desconcertante. A comida é boa, e se ignorarmos a cozinha, as toalhas de saco de plástico e os tanques com os animais vivos lá fora, o jantar torna-se bastante agradável.
Como boas amigas que somos eu e a Inês, após muito pensar, decidimos oferecer à Joana um bilhete para o Jonh Legend que vem cá em Abril ao hotel Venetian. Os bilhetes foram caríssimos, e comprámos um para cada. Quando chegamos a casa, ia eu pôr o bilhete da Joana num envelope amoroso com um postal custom made quando reparo na data do concerto: 10-04. Ora dia 9-04 marcámos nós viagem para Yangshuo. Ainda assim, contei umas dez vezes os meses, voltei a contar, e sem pinga se sangue contei o sucedido à Inês. Na mesma noite vendi um dos bilhetes, e os outros dois também já os vendi. Deve ter sido por ser sexta-feira 13.

Nessa noite ainda fomos ao MGM e sem coragem para repetir o percurso cubic-D2 -macdonald's ao pé de casa, fui dormir.
Nestes últimos fins de semana tenho aproveitado para explorar Macau e conhecer aquilo que o meu guia da China diz ser o must see em de cá. Depois faço um post com essas atracções para aliciar os potenciais visitantes de Macau.
Durante a semana temos trabalhado quase sempre até tarde e por isso não dá para explorar quase nada. O consulado é um antigo hospital, que após a passagem de Macau para o governo Chinês foi reclamado pelo governo português e passou a ser o consulado. Ora os chineses acreditam que por ter sido um hospital o edifício está assombrado com os espíritos daqueles que aqui morreram. Por isso mesmo, não entram nem saem pela porta principal, a porta dupla, porque dizem que é a porta dos mortos. Da mesma forma, é com muita relutância que vão aos arquivos, porque fica na antiga morgue. Eu e Inês damo-nos bem com os espíritos; saímos do consulado sempre à noite, com o edifício deserto e eles nunca nos chatearam. Mas claro, qualquer anomalia que aqui suceda é culpa dos espíritos: desde uma lâmpada que pisca, a um senhor que aqui trabalhava e aparentemente se suicidou. A nossa colega macaense, a Fátima, contou-nos isto com uns olhares cheios de significado, como se nós também já tivessemos topado que os espíritos estão numa de fazer o pessoal todo saltar das janelas.


O cais 22 - o de ruivo é o Zé Maria com a peruca da Joana

A Inês cheia de medo dos espíritos




domingo, 15 de março de 2009

What we've been up to

Pôr a casa em ordem.... finalizar as compras ("ah...não comprámos descascador de cenouras!!"). Contratar uma empregada, a Aina, filipina e emigrante, que conseguiu dar um aspecto decente à nossa desarrumação cansada, o que fez com que deixássemos de ter vergonha de abrir a porta de casa a alguém. Ir às compras de comida, porque falta sempre qualquer coisa. Conseguir comprar bacalhau (finalmente!!) lombos de porco e carne picada. Tentar fazer lasanha no forno (i.e. micro-ondas com um grande ego) dos nossos vizinhos. Acabar por fazer bolonhesa porque no forno só cabe um pirex de brincar. Conseguir ainda assim fazer bacalhau com natas: sucesso estrondoso.

Trabalhar, e chegar quase sempre atrasadas ao trabalho. Ficar doente de 5 coisas ao mesmo tempo (gripe, amigdalite, sinosite e amigos). Ir a reuniões a Hong Kong e chegar a casa as 10 da noite. Fazer planos de cozinhar mil coisas. Fazer sopa, muita sopa, que sopa dá sempre jeito ter em casa.

Planear viagens: Yangshuo, Beijing, Kota Kinabalu. Perceber que não vai dar tempo para ir a todos os sítios que gostavamos. Chegar todos os dias tarde a casa, e não ter tempo para ir ao ginásio, para ver um filme, para dar uma volta. Aproveitar os fins de semana até não dar mais, espremer o tempo até à ultima gota, fazer mil coisas num dia.

Pagar as contas da casa, a renda, a àgua, a luz, o gás, a internet. Decidir todos os dias onde almoçamos (hoje apetece-te chinês ou outra coisa??). Fazer máquinas de roupa para a Aina passar. Perceber que a roupa nunca vai secar realmente ao ar livre e que vamos mesmo de pôr tudo no secador. Mudar de toalha de banho mais que uma vez por semana porque não seca e fica a cheirar mal. Custar a adormecer porque a luz do quarto pisca quando desligada, qual sinalização para aviões. Comprar desumidificadores. Ter ainda assim o quarto sempre húmido. Ter a sensação que nos falta sempre comprar qualquer coisa.

Jantar fora: japonês, chinês, italiano, tailandês. Passear em Macau e descobrir os templos, os jardins, aquilo que sobreviveu à fome demolidora dos casinos. Ver um espectaculo de jazz no centro cultural, com a casa cheia. Comer fruta fresca na rua, em sumos ou aos pedaços. Andar em ruas limpas de cócó de cão, ruas que mesmo à noite e mesmo desertas são sempre seguras.

Contemplar diariamente o mistério que é a cultura chinesa, e perceber, por comparação, que também nós temos uma cultura cheia de contradições.

domingo, 8 de março de 2009

Culture clash

Quando soube que vinha para Macau (depois de EUA e Madrid como ameaças - sim porque no dia da divulgação dos destinos disseram em alto e bom som à frente de 400 pessoas: Catarina Bandeira, EUA, ao qual eu pulei de alegria para depois o senhor dizer: ah e tal isto é engano, afinal vai para Espanha), estava preparada para encontrar muitas diferenças culturais. Mas realmente há umas a que não se conseguem ficar indiferente por mais espírito aberto que se tenha. Não é uma crítica, é uma observação.

Tudo começa quando se anda nos autocarros: em Macau são pequenos, com meia dúzia de lugares sentados. Os chineses, ao que parece, detestam mesmo viajar de pé porque assim que o autocarro pára na estação, o recato e contenção das pessoas desaparece e desata tudo a correr e a empurrar-se para entrar, numa luta corpo-a-corpo à qual nem velhos nem crianças escapam. Claro que a nossa relutãncia em participar neste confronto quase medieval leva a que nunca arranjemos lugar sentadas. Depois, quando alguém toca na campainha para sair começa toda a gente num alvoroço para ficar com o lugar vazio, numa espécie de jogo das cadeiras que ganha quem conseguir subrepticiamente enfiar-se no dito lugar recorrendo a toda a mestria na arte de deslizar entre a massa de gente.

Dentro do autocarro há também sinais interessantes que pedem o obséquio aos senhores passageiros de não cuspir no chão, se não for muito incómodo. É sempre bom avisar, porque de certeza muitos chineses não sabiam que é uma badalhoquice fazer tal coisa.

Ainda em relação a meios de transporte, eles gostam de enfeitar os carros. Já falei do freestyle teddy bear décor, do extreme tunning, mas quando há casamentos eles gostam de elevar a fasquia. Nestas ocasiões, no carro dos noivos abunda o cor-de-rosa , e o tule, as flores em cada canto e os laçarotes são apenas a moldura para a piéce de resistance que é um casal de peluches no capot (podem ser ursinhos, bonequinhos, qualquer coisa desde que seja o par). Segundo me foi dito, faz também parte do ritual do casamento, o casal fazer uma sessão fotográfica (antes do mesmo) em locais idílicos, vestidos a rigor (de noiva e noivo), e depois fazem um àlbum que durante o casamento é passado de mão em mão para que cada convidado tece alguns comentários à cerca da fotogenia dos noivos.

Adorava presenciar um destes casamentos, porque a julgar pelas montras de vestidos de noivas e damas de honor, devem ser um desfile carnavalesco de mau gosto ao nível de qualquer filme de kusturika.

Outro aspecto em que a cultura chinesa difere muito da nossa é os limites entre o que é feito em público e o que é intimidade. Já falei no cuspir para o chão, no arroto nada tímido, na flatulência que assalta os chineses no meio da rua. Mas há outros fenómenos interessantes: os miúdos chineses não usam fralda, usam a rua para aliviar as suas necessidades, para proteger os rabinhos de ficarem assados. E como ninguém quer que os miúdos molhem as calças, estas são especialmente desenhadas, com um buraco entre as pernas, para que no caso de emergência seja só afastar a perna e cá vai disto. Ah, é para a coisa não se tornar muito complicada também não usam cuecas, porque há que poupar todos os segundinhos. No entanto, nenhum chnês convida alguém para ir a sua casa. Não isso é que não, é uma invasão de privacidade, uma exposição demasiado grande da sua intimidade.

Assim, a relação com o espaço público é muito interessante. De manhã vêm-se os velhotes a fazer tai chi no jardim e em vários locais de Macau existem ginásios ao ar livre, com máquinas de exercícios (que pintadas de amarelo e vermelho mais parecem um parque infantil) numa demonstração da generosidade do regime: milhões de chineses vivem abaixo do nível de pobreza, mas ao menos andam em forma. Quando o cansaço toma conta deles, agacham-se no meio da rua, numa posição de desafia qualquer conforto, mas que zela pela manutenção dos bancos de jardim.

A relação entre pessoas do mesmo sexo e de sexos opostos é também algo que foge à minha compreensão. É muito vulgar ver-se as raparigas de mãos dadas a passearem na rua, o que não chocando propriamente, se torna esquisito quando vemos que elas não se largam. E os homens não se ficam atrás: tentando mostrar ao mundo a forte amizade que os une, andam abraçados para todo o lado. E não, não são gays, apesar de o andarem com malas de mulher ter levantado fortes suspeitas disso. No entanto, apesar deste contacto físico todo, homens e mulheres não se tocam. Quando nos mudámos para a nossa casa, a Inês conheceu um nosso vizinho chinês de Hong Kong que dias depois encontrámos na paragem do autocarro. A Inês, num lapso totalmente lamentável, lá foi dar dois beijinhos ao Kevin, o vizinho, ao que o rapaz congela e permanece parado no mesmo sítio, ficando ainda mais branco. Parecia que tinha sido violado, coitado.
No entanto é bom ver as coisas que temos em comum: tal como em Portugal os senhores taxistas cultivam a arte da unhaca bem grande, acessório extremamente útil numa grande variedade de situações. Por outro lado, se eu achava que os portugueses conduziam mal, senti um grande orgulho nos nossos condutores quando cheguei a Macau. Não é que eles conduzam mal, é mais que eles não sabem o que é conduzir.

Ficam algumas fotos para mostrar estas preciosidades



segunda-feira, 2 de março de 2009

Shanghai


Dentro do Maglev - o comboio mais rapido do mundo, movido a energia electromagnética



Jantar de sexta-feira - o comité de recepção


No bar rouge



À entrada da old town




Os Yuyuan Gardens






A vista de cima do tira-caricas. É o "observatory" mais alto do mundo


Jantar de sábado no japonês


No museu de Shanghai


O que as fotografias não contam:
Que Shaghai é uma cidade vibrante, cosmopolita, que vive com toda a força de um lugar que descobriu que tem ainda tudo para crescer. Que no meio de tantos arranha-céus ainda há quem viva segundo os costumes mais tradicionais chineses, que se encontram lugares intemporais no meio da azáfama e da pressa quotidiana dos cidadãos.
Que fomos recebidos por um grupo de contactos de várias edições por outros portugueses, de forma tão calorosa que custou voltar. Que as noites foram brutais e os dias passados numa sonolência dormente a tentar ver mais de Shanghai do que discotecas e bares (apesar de tantos e muitos deles lindíssimos).

Que, por fim, um fim de semana soube a muito pouco, e o gostinho que ficou na boca deixou a vontade de voltar por muito mais tempo.