sexta-feira, 29 de maio de 2009

My umbrella

Juntem 19 mil pessoas por km2 a uma cidade com ruas pequenas e passeios microscópicos. Adicionem chuva, da mais variada, desde chuvadas ensurdecedoras a uma espécie de vaporização de àgua. Dêm às pessoas guarda-chuvas e muito pouca preocupação com o bem estar alheio.

Resultado? Um bailado diário de guarda-chuvas em que a perícia de cada um se mede na capacidade de equilibrar o seu e ao mesmo tempo se desviar das investidas de guarda-chuva hello kitty, doraemon, com folhos ou às bolinhas. Depois, quando nos deparamos frente-a-frente com alguém, trocam-se olhares de desafio para ver quem é que cede e passa por baixo. Ou, como é mais frequente, encontram-se os kamikaes, que não kerem saber e avançam pela multidão incauta, espetando varetas nos olhos alheios. É bonito.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Alforreca e gripe suína

O meu trabalho tem muito de pouco assinalável mas proporciona-me momentos de grande humor (ou momentos de levantar a mão à testa, depende de cada um). Claro que nisso tem mais mérito o facto de estar na China do que propriamente o meu trabalho, mas permaneço optimista esperando ainda assim momentos como aquele em que num jantar de uma feira experimentei uma grande iguaria na china: alforreca (sim, MESMO alforreca). Devo dizer que não sabia propriamente a grande coisa, mas a textura é positivamente horrorosa, uma espécie de gelatina envolta numa pelicula qualquer que não se consegue trincar por muito esforço que se faça. A soluçaõ é empurrar tudo com um copo de àgua e fazer um sorriso "óh p'ra mim que comi alforreca porque gosto mesmo destas coisas exóticas!" para a fotografia.

As feiras são um grande acontecimento no mundo empresarial chinês: servem muito menos para fazer negócios do que para mostrar ao mundo a grandiosidade da China: o maior centro de convenções, o maior pavilhão, o melhor banquete. Na feira do ambiente havia empresas cuja contribuição para a causa ambiental oscilava entre terem alguns carros hibridos na frota comercial ou terem desligado a luz da casa de banho quando não a usam. As feiras também servem para que os membros do executivo sejam passeados pelo recinto, dando o seu aval a tudo, cortem umas fitas e tirem umas fotografias em conjunto. Tudo perante uma pequena multidão e ao som de muitas palmas.

Na mais recente feira a que fui, a Hofex, a feira de hotelaria em Hong Kong, reparei na preocupação em ter desinfectantes em todo o lado por causa da gripe suína. No metro, há pessoas que ganharam um emprego graças à gripe, a desinfectar os corrimões. Toda a gente anda meio assustada com a gripe e isso criou um clima de suspeita face a qualquer pessoa que ouse espirrar em público: é logo bombardeada com olhares de soslaio e um virar de costas meio discreto. No nosso prédio os botões do elevador estão cobertos com uma película plástica que a gestão do condominio anuncia que devem ser mudados de 2 em 2 horas. Nas fronteiras, as câmaras térmicas expiam a nossa temperatura e quando fazemos check in num hotel medem nos também a febre. Mas esta preocupação não impede que continuem a ter o ar condicionado em temperaturas àrcticas em todo o lado e que continuem a cuspir para o chão a despeito de qualquer gripe, ou qualquer outra questão higiénica.


Alforreca (é a coisa esbranquiçada que parece cebola aos bocados)

domingo, 17 de maio de 2009

Praia e paparazzi




Quando pensava que o choque cultural tinha atingido o seu auge nas escarradelas das quais me tenho de desviar nos passaior, eis que me deparo com outra faceta dos chineses que sendo menos comum é possivelmente bem mais incomodativa.

Há dois fins-de-semana a maior parte da grupeta aqui de Macau decidiu ir a Hong Kong ver nouvelle vague e fazer uns dias de praia, que as semanas debaixo da luz fluorescente e sem ver um raio de sol were taking it's tole. Eu como tinha estado a trabalhar em Hong Kong na sexta feira, dormi por lá para ir aproveitar Sabado de manhã a praia.

O meu total desconhecimento das praias em Hong Kong paguei-o bem caro: após estar algumas horas ao sol em Repulse bay, naqueles que foram dos momentos mais felizes desse dia, vejo chegar hordas de chineses da china continental - soube que era essa a sua proveniência não só porque tinha quem mo dissessse, mas porque poderia facilmente adivinhar pelos bonés vermelhos da excursão ou pelas roupas de gosto duvidoso - que invadem a praia com as suas sombrinhas e munidos de máquinas fotográficas.

Como se o facto de estarem na praia totalmente vestidos e à sombra não fosse suficiente (o pânico de apanharem um raio de sol aproxima-os assutadoramente dos vampiros), perante o espectáculo das poucas pessoas que ali estavam a apanhar sol, decidem documentar este comportamento bizarro sem qualquer pudor. As maiores vitimas foram as inglesas, que com as suas peles brancas e cabelos louros provocam neles um fascínio que fez esgotar a já escassa vergonha que têm e irem pedir-lhes para tirar fotografias com eles. O reportório fotográfico incluiu assim qualquer pessoa em fato de banho, a entrar ou sair de àgua, mais ou menos velha, homem ou mulher. O denominador comum era o traje de banho e a manifesta felicidade nessa actividade estranhíssima que é o "fazer praia".

Claro que o constragimento foi suficiente para me pôr a tirar-lhes fotos também e passado uns minutos ter desistido de apanhar mais sol.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tokyo



Vou tentar fazer um relato da viagem a Tokyo sem ceder à tentação de, perante o deleite totalmente babado que senti, dizer simplesmente que "é tudo muito giro" (mas é mesmo).
Desta vez, depois do trauma de yangshuo, partimos do aeroporto de hong Kong, o que é muito mais simpático do que fazer a viagem de volta de shenzhen. Chegados ao aeroporto de Narita, das primeiras coisas que reparo são as exposições de arte no aeroporto: pratos e têxteis e outras mostras de cultura, que só ali permaneciam por estarmos no Japão: em Portugal duvido que durassem um dia. Do aeroporto até à cidade vai-se de city limousine, o que é apenas um grande elogio a um autocarro. Nessa noite, totalmente exaustos, pouco mais fizemos do que procurar a casa da Elma, a C13 que nos recebeu na sua residência, desfazer malas e cair na cama.

Day one: acordámos cedo, mesmo mesmo cedo, e fomos para os jardins do palácio imperial, depois de breves momentos de pânico a olhar para a planta do metro, que mais parece um desenho de um miúdo de 6 anos a quem ofereceram demasiados lápis de cera. Como o metro ao que parece tem truques (há duas companhias que gerem aquilo e os bilhetes não dão para tudo) comprámos passes de um dia para não haver mais chatice. No metro comecei a reparar naquilo que viria a ser o que sempre que me perguntarem por Tokyo vou responder: é o lugar mais civilizado do mundo. De facto, existem cartazes a pedir para as pessoas não falarem ao telemóvel, porque incomodam os outros passageiros (na china pedem para não cuspirem no chão....), como se o metro fosse uma espécie de retiro onde os japoneses aproveitam para meditar um poquinho antes de chegar a casa.

Para grande desilusão nossa os jardins do palácio estavam fechados, pelo que decidimos ir ao templo de Senso-ji. O templo está muito bem preservado, aliás como quase tudo em Tokyo, mas também não escapa ao aproveitamento económico da afluência de turistas: até chegar ao templo existem centenas de barraquinhas a vender souvenirs de toda a natureza: desde as tradicionais sandálias de madeira que se usam com a meia branca até a perucas com a forma dos cabelos dos samurai. Visto o templo, passeamos pelos jardins adjacentes.

Como estávamos numa onda zen fomos a mais um jardim, o parque Ueno, onde vimos muitos pequenos templos, todos com o seu kit lava-mãos à porta que não só ajuda-nos a purificar antes de ir ao templo, como é bom para aliviar do calor.

Mais uma voltinha de metro e fomos a Omote-sando, uma zona de lojas, estilo baixa, menos os graffitis e a decadência das lojas dos chineses. As ruas têm todas canteiros com flores, ninguém, mas mesmo ninguém apita, ou acelera nas passadeiras, as casas antigas estão preservadas e as lojas mais modernas (as pradas e guccis e companhia) são cada uma delas uma obra saída de um qualquer livro de arquitectura. Por todo o lado vão-se vendo japoneses muito bem vestidos, cheios de pinta, como um catálogo de estilos de roupa, em que cada um é o arquétipo do estilo punk, intelectual e até surfista. Como a tentação de entrar numa das milhares de lojas fantásticas se estava a tornar muito forte, saímos dali e fomos a Shibuya.

Shibuya é um dos centros de Tokyo, onde fica o famoso cruzamento que aparece no "lost in translation", filme que fiquei a perceber muito melhor desde que vim para o Oriente. O dito cruzamento é mesmo impressionate: milhares de pessoas ficam à espera nos passeios, e mal abre a luz verde, a barreira solta-se e toda aquela gente se cruza apressadamente, num aparente caos mas onde ninguém choca, para depois recolherem aos passeios e em menos de 10 minutos está a estrada de novo deserta.

Day two: Madrugámos às 4.45 da manhã para ir ao mercado do peixe. Ainda meio a dormir entrámos no recinto do mercado, para logo ser obrigada a abrir bem o olho perante os carros de transporte do peixe que deslizam por todos os lados sem se pareceram importar muito com os traseuntes. O atum é de longe o peixe que mais se vê por lá: leiloam-nos, cortam-nos com espadas, e vendem-nos por todo o lado. Tal como os atuns, tudo o que se vende no mercado é de tamanho XL: vimos japoneses a matar peixes do tamanho de um braço, marisco semelhante a mexilhões do tamanho da palma da mão e caranguejos com patas maiores que muitas santolas da portugália. Fomos também experimentar o sushi fresquíssimo que se vende nuns restaurantes perto do mercado. Embora a perspectiva de comer sushi às 7 da manhã anime pouca gente, devo dizer que vale tanto a pena que estavam até muitos locals na enorme fila para entrar. Claro que algumas das coisas que serviram não fui capaz de comer: ter mini-lulas inteiras num rolo de suhi, com olhinhos, com ar de que se vão mexer a qualquer momento e a olhar para mim, lamento mas é demais.

Saímos do mercado, passeámos por Ginza, mais uma zona de lojas caras, a 5th avenue de Tokyo e fomos de novo tentar a sorte nos jardins do palácio imperial.Desta vez os jardins estavam abertos e a tranquilidade do lago, das àrvores e das flores e somar às poucas horas de sono fez o apelo dos banquinhos de jardim irrresistível e ali descansámos um bom bocado. Como um jardim nunca vem só, fomos a seguir ao parque Yoyogi, onde vimos um jardim zen daqueles de areia, uma espécie de missa no templo, e um teatro japonês que estava a decorrer. A julgar pelos risos da plateia, era uma comédia e até bastante engraçada, mas como passados uns minutos percebi que não ia mesmo entender nada, desisti e fiquei a aobservar as pessoas que vão rezar ao templo: depois de fazerem a sua doação para uma estrutura de madeia com grades para acolher as moedas, fazem umas vénias e batem duas palmas com as mãos abertas como as crianças, e depois fazem mais umas vénias. Vê-se também muitas das senhoras mais velhas com o traje tradicional, completo com sombrinha, meia branca e chinelo.

Depois do templo fomos a Akihabara, o ponto de encontro dos geeks de Tokyo: por todo o lado existem lojas de electrónica, raparigas vestidas de personagens de animé, lojas de filmes e revistas de manga, etc. Seguimos então para Shinjuku que é uma espécie de world trade centre mas que convive side by side com um bairro bastante mais obscuro, com lojas estranhas, casas de massagens duvidosas e escadas descem para os confins de estabelecimentos de qualquer coisa. Mas no meio dos dois, como uma fronteira entre estes dois mundos encontram-se ruas claustrofobicamente pequenas, ladeadas por restaurantes que não são mais que um balcão e meia dúzia de cadeiras: as tascas japonesas, frequentadas quase exclusivamente pelos locals. Estes são sempre simpáticos perante os nossos nada discretos flashes, espírito que deve derivar da paixão que eles próprios têm por tirar fotos a tudo. Esta simpatia estende-se por todo o lado: assim que entramos em qualquer loja os empregados gritam algo como "irashaimase" a plenos pulmões, o que, longe de ser qualquer espécie de insulto, é na verdade um caloroso mas intimidativo "bem vindo!". Além do mais, fazem vénias a por tudo e por nada (sendo o nada por exemplo as vénias que os empregados das bagagens fazem quando o autocarro parte).
Após anoitecer, fomos à torre de tokyo (uma espécie de torre eiffel) ver a vista lá de cima, que é sempre impressionante e depois seguimos para Roponggi, a zona dos bares e discotecas. Como o price range era um pouco acima do normal, demos umas voltinhas e fomos para casa.
Day three: Como andámos a correr por Tokyo inteiro nos dias anteriores decidimos ter uma manhã mais calma e fomos ver o museu Edo-Tokyo, um museu sobre a cidade antiga, desde a sua fundação até à segunda guerra mundial. É um museu muito interactivo, cheio de maquetes, artefactos, e tem até um sitio para experimentarmos o peso dos baldes de àgua que eles transportavam às costas. Como ainda tinhamos umas horas decidimos ir a Harajuku, que é onde se vê uma faceta dos Japoneses menos comum: os jovens vestidos de personagens de manga, que se pavoneiam pelas ruas, debaixo dos constantes flashes dos turistas. São cabelos loiros, unhas postiças, fatiotas saídas de um qualquer videoclip de heavy metal, muita maquilhagem e acessórios a condizer. É um fenómeno estranho que suspeito que funcione como um escape a tanta civilização. Depois disto, foi apanhar a limo bus de novo e avião até Macau.
Todas as fotos: