terça-feira, 5 de maio de 2009

Tokyo



Vou tentar fazer um relato da viagem a Tokyo sem ceder à tentação de, perante o deleite totalmente babado que senti, dizer simplesmente que "é tudo muito giro" (mas é mesmo).
Desta vez, depois do trauma de yangshuo, partimos do aeroporto de hong Kong, o que é muito mais simpático do que fazer a viagem de volta de shenzhen. Chegados ao aeroporto de Narita, das primeiras coisas que reparo são as exposições de arte no aeroporto: pratos e têxteis e outras mostras de cultura, que só ali permaneciam por estarmos no Japão: em Portugal duvido que durassem um dia. Do aeroporto até à cidade vai-se de city limousine, o que é apenas um grande elogio a um autocarro. Nessa noite, totalmente exaustos, pouco mais fizemos do que procurar a casa da Elma, a C13 que nos recebeu na sua residência, desfazer malas e cair na cama.

Day one: acordámos cedo, mesmo mesmo cedo, e fomos para os jardins do palácio imperial, depois de breves momentos de pânico a olhar para a planta do metro, que mais parece um desenho de um miúdo de 6 anos a quem ofereceram demasiados lápis de cera. Como o metro ao que parece tem truques (há duas companhias que gerem aquilo e os bilhetes não dão para tudo) comprámos passes de um dia para não haver mais chatice. No metro comecei a reparar naquilo que viria a ser o que sempre que me perguntarem por Tokyo vou responder: é o lugar mais civilizado do mundo. De facto, existem cartazes a pedir para as pessoas não falarem ao telemóvel, porque incomodam os outros passageiros (na china pedem para não cuspirem no chão....), como se o metro fosse uma espécie de retiro onde os japoneses aproveitam para meditar um poquinho antes de chegar a casa.

Para grande desilusão nossa os jardins do palácio estavam fechados, pelo que decidimos ir ao templo de Senso-ji. O templo está muito bem preservado, aliás como quase tudo em Tokyo, mas também não escapa ao aproveitamento económico da afluência de turistas: até chegar ao templo existem centenas de barraquinhas a vender souvenirs de toda a natureza: desde as tradicionais sandálias de madeira que se usam com a meia branca até a perucas com a forma dos cabelos dos samurai. Visto o templo, passeamos pelos jardins adjacentes.

Como estávamos numa onda zen fomos a mais um jardim, o parque Ueno, onde vimos muitos pequenos templos, todos com o seu kit lava-mãos à porta que não só ajuda-nos a purificar antes de ir ao templo, como é bom para aliviar do calor.

Mais uma voltinha de metro e fomos a Omote-sando, uma zona de lojas, estilo baixa, menos os graffitis e a decadência das lojas dos chineses. As ruas têm todas canteiros com flores, ninguém, mas mesmo ninguém apita, ou acelera nas passadeiras, as casas antigas estão preservadas e as lojas mais modernas (as pradas e guccis e companhia) são cada uma delas uma obra saída de um qualquer livro de arquitectura. Por todo o lado vão-se vendo japoneses muito bem vestidos, cheios de pinta, como um catálogo de estilos de roupa, em que cada um é o arquétipo do estilo punk, intelectual e até surfista. Como a tentação de entrar numa das milhares de lojas fantásticas se estava a tornar muito forte, saímos dali e fomos a Shibuya.

Shibuya é um dos centros de Tokyo, onde fica o famoso cruzamento que aparece no "lost in translation", filme que fiquei a perceber muito melhor desde que vim para o Oriente. O dito cruzamento é mesmo impressionate: milhares de pessoas ficam à espera nos passeios, e mal abre a luz verde, a barreira solta-se e toda aquela gente se cruza apressadamente, num aparente caos mas onde ninguém choca, para depois recolherem aos passeios e em menos de 10 minutos está a estrada de novo deserta.

Day two: Madrugámos às 4.45 da manhã para ir ao mercado do peixe. Ainda meio a dormir entrámos no recinto do mercado, para logo ser obrigada a abrir bem o olho perante os carros de transporte do peixe que deslizam por todos os lados sem se pareceram importar muito com os traseuntes. O atum é de longe o peixe que mais se vê por lá: leiloam-nos, cortam-nos com espadas, e vendem-nos por todo o lado. Tal como os atuns, tudo o que se vende no mercado é de tamanho XL: vimos japoneses a matar peixes do tamanho de um braço, marisco semelhante a mexilhões do tamanho da palma da mão e caranguejos com patas maiores que muitas santolas da portugália. Fomos também experimentar o sushi fresquíssimo que se vende nuns restaurantes perto do mercado. Embora a perspectiva de comer sushi às 7 da manhã anime pouca gente, devo dizer que vale tanto a pena que estavam até muitos locals na enorme fila para entrar. Claro que algumas das coisas que serviram não fui capaz de comer: ter mini-lulas inteiras num rolo de suhi, com olhinhos, com ar de que se vão mexer a qualquer momento e a olhar para mim, lamento mas é demais.

Saímos do mercado, passeámos por Ginza, mais uma zona de lojas caras, a 5th avenue de Tokyo e fomos de novo tentar a sorte nos jardins do palácio imperial.Desta vez os jardins estavam abertos e a tranquilidade do lago, das àrvores e das flores e somar às poucas horas de sono fez o apelo dos banquinhos de jardim irrresistível e ali descansámos um bom bocado. Como um jardim nunca vem só, fomos a seguir ao parque Yoyogi, onde vimos um jardim zen daqueles de areia, uma espécie de missa no templo, e um teatro japonês que estava a decorrer. A julgar pelos risos da plateia, era uma comédia e até bastante engraçada, mas como passados uns minutos percebi que não ia mesmo entender nada, desisti e fiquei a aobservar as pessoas que vão rezar ao templo: depois de fazerem a sua doação para uma estrutura de madeia com grades para acolher as moedas, fazem umas vénias e batem duas palmas com as mãos abertas como as crianças, e depois fazem mais umas vénias. Vê-se também muitas das senhoras mais velhas com o traje tradicional, completo com sombrinha, meia branca e chinelo.

Depois do templo fomos a Akihabara, o ponto de encontro dos geeks de Tokyo: por todo o lado existem lojas de electrónica, raparigas vestidas de personagens de animé, lojas de filmes e revistas de manga, etc. Seguimos então para Shinjuku que é uma espécie de world trade centre mas que convive side by side com um bairro bastante mais obscuro, com lojas estranhas, casas de massagens duvidosas e escadas descem para os confins de estabelecimentos de qualquer coisa. Mas no meio dos dois, como uma fronteira entre estes dois mundos encontram-se ruas claustrofobicamente pequenas, ladeadas por restaurantes que não são mais que um balcão e meia dúzia de cadeiras: as tascas japonesas, frequentadas quase exclusivamente pelos locals. Estes são sempre simpáticos perante os nossos nada discretos flashes, espírito que deve derivar da paixão que eles próprios têm por tirar fotos a tudo. Esta simpatia estende-se por todo o lado: assim que entramos em qualquer loja os empregados gritam algo como "irashaimase" a plenos pulmões, o que, longe de ser qualquer espécie de insulto, é na verdade um caloroso mas intimidativo "bem vindo!". Além do mais, fazem vénias a por tudo e por nada (sendo o nada por exemplo as vénias que os empregados das bagagens fazem quando o autocarro parte).
Após anoitecer, fomos à torre de tokyo (uma espécie de torre eiffel) ver a vista lá de cima, que é sempre impressionante e depois seguimos para Roponggi, a zona dos bares e discotecas. Como o price range era um pouco acima do normal, demos umas voltinhas e fomos para casa.
Day three: Como andámos a correr por Tokyo inteiro nos dias anteriores decidimos ter uma manhã mais calma e fomos ver o museu Edo-Tokyo, um museu sobre a cidade antiga, desde a sua fundação até à segunda guerra mundial. É um museu muito interactivo, cheio de maquetes, artefactos, e tem até um sitio para experimentarmos o peso dos baldes de àgua que eles transportavam às costas. Como ainda tinhamos umas horas decidimos ir a Harajuku, que é onde se vê uma faceta dos Japoneses menos comum: os jovens vestidos de personagens de manga, que se pavoneiam pelas ruas, debaixo dos constantes flashes dos turistas. São cabelos loiros, unhas postiças, fatiotas saídas de um qualquer videoclip de heavy metal, muita maquilhagem e acessórios a condizer. É um fenómeno estranho que suspeito que funcione como um escape a tanta civilização. Depois disto, foi apanhar a limo bus de novo e avião até Macau.
Todas as fotos:

2 comentários:

  1. Só agora vi as fotos todas, hehehe!
    Ainda bem que gostaram, e tenho pena de não vos ter recebido presencialmente!

    E vi a minha prenda nas primeiras fotos ;D ***

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  2. Obrigado por me teres estragado o dia, Catá... Lol

    Que brutalidade... Que inveja...

    Há aí partes que desenvolveste pouco, mas acredito que seja difícil descrever tanta coisa em tão pouco tempo. Por exemplo a zona dos geeks que seria uma espécie de zona das peças, não é?

    Quem me dera ter feito essa viagem... (Suspiro)

    Um grande beijinho! Aproveita bem isso tudo que é daquelas oportunidades que só se têm uma vez na vida!

    PS - Já te disse que te invejo?

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