segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um cheirinho da vida em Macau

Work hard to play hard. Este parece ser o mote de viver em Macau. Trabalhamos das 9 às 19 e há inclusive quem trabalhe ao sábado. Mas isso não impede que a festa aconteça às Sextas e sempre aos Sábados. Aqui a noite não é muito variada, acabamos sempre por ir sair aos mesmos sítios. Neste fim de semana fomos na sexta feira ao cubic que é uma discoteca num centro comercial (estilo imaviz mas menos decadente) que tem ao lado outra discoteca que também frequentamos habitualmente, o d2. A vantagem destes nomes curtos e bastante ocidentais é que não temos de nos pôr em aventuras pelo estranho mundo dos tons do cantonense e podemos dizer o nome ao taxista no nosso melhor sotaque ocidental (com excepção do bar MP3 que traduzido em inglês-à-cantonense se torna "eme pi fee"). Dentro das discotecas a música é sempre comercial, dentro do estilo hipo-hop para dar às chinesas uma hipotese de mostrar os seus dotes na pista. A certa altura farta um bocado mas como noite é noite, dança-se, ri-se, chega-se a casa de manhã e no dia seguinte começa-se tudo de novo.

Depois de sexta tivémos uma festa em casa de um C2 (um veterano do contacto) uma espécie de tertúlia lusa em terras chinesas que foi espectacular. Ele mora na ilha da taipa, numa casa enorme, mas que por ser um apartamento nos obrigou a andar descalços pela casa para não incomodarmos os vizinhos. Para quem não sabe, eu odeio pés, pelo que aquilo começou a assemelhar-se assustadoramente com um pesadelo tipo Hitchcock, com pés e meias e pés sem meias por todo o lado. Acabado o serão foi tudo de novo para o cubic.

Durante a semana a nossa rotina tem sido quase trabalho-casa com um intervalo na hora de almoço para convivermos um bocado pelo centro. Mas como o nosso prédio é quase o guetto dos portugueses, acabamos sempre por fazer jantares de exibição culinária entre o nosso apartamento e o dos rapazes no 25 andar. Muitos dos tugas expatriados estão muito bem orientados aqui em Macau e alguns já falam cantonense fluentemente (ou pelo menos sabem mais que o meu quintal de vocabulário), o que dá imenso jeito quando por exemplo, queremos que no supermercado nos levem as compras a casa. Ora, explicar isto por gestos não é assim tão fácil quanto possa parecer, e nem todo o meu treino a jogar party & co. me safou dos olhares de absoluta incompreensão da senhora da caixa. Nestes momentos, puxa-se do telefone e liga-se ao Zé Maria que muito amavelmente lá fala ao telefone com a senhora e lhe explica o porquê de tanto gesticular da minha parte. É de calcular que o próprio gesto de passar o telefone à senhora da caixa não é algo que eu esteja muito habituada a fazer mas ela não se mostrou nada reticente em trocar dois dedos de conversa com um estranho ao telefone. Ao menos isso.

No dia-a-dia os gestos são algo muito útil: aponta-se o que se quer, faz-se em gestos os números, e quando o pedido é mais complexo entra-se num verdadeiro desafio de criatividade e expressividade corporal. Porque perguntar em inglês é inútil, pedir indicações é um luxo a que aqui não nos podemos dar. Para chegar a casa de táxi tive de me dirigir à paragem de autocarro e escrever em caracteres chineses o nome da rua que sabia ser lá perto. A Inês ainda temeu que a minha escrita nos levasse até Coloanne ou pior mas a coisa lá correu bem. Todos os nomes das ruas estão em português e cantonense mas o primeiro é totalmente inócuo.

Assim, as coisas mais simples aqui podem facilmente tornar-se grandes desafios: ir às compras implica ler todos os rótulos para ver a proveniência dos alimentos (ninguém quer jogar roleta russa com o leite chinês) os congelados têm formas esquisitas, que variam entre aquilo que tendo a certeza que é peixe, dá para duvidar, e aquilo que tendo mesmo a certeza que não é carne, está lá escrito que sim. Felizmente ainda não tivemos nenhuma surpresa desagradável.

Entretanto temos assistido a mais particularidades da cultura chinesa, algumas que são apenas diferentes, outras que fazem despertar em nós a mais convicta repulsa. Mas isso fica para um próximo post para eu reunir fotografias ilustrativas.

4 comentários:

  1. Eu estou no Brasil e eles também nãoi me percebem!!!

    Não sabes a dificuldade de eu estar a dizer 6 e eles insistirem 7!!!

    666666666666666666666

    7?

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

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  2. Olá catarina, tenho seguido as tuas aventuras nas terras do sol nascente e, claro, tenho-me divertido imenso... a vontade de ir a Macau vai aumentando e diminuindo um pouco ao ritmo do que vais contanto. A palavra "globalização" tem um significado muito diferente quando de facto vivemos a cultura de outros povos, não achas?
    Espero que tenhas passado um dia particularmente feliz, HOJE...PARABÉNS!!
    um grande, grande, beijinho
    mena

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  3. Eheheh, foot fetish eu conhecia, agora o oposto é que não... :)

    E são estes relatos que me deixam aliviado por ter vindo parar a um país onde eu falo a língua deles (menos o sotque estranho, que às vezes pode complicar as conversas um bom bocado :P)

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  4. ... lendo este post, afirmo com toda a convicção, sinceridade e lamechice: só uma mulher como tu para viver e, acima de tudo, saber aproveitar essa aventura !

    rebento de orgulho em ti ;)

    Luv u my love1

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