segunda-feira, 11 de abril de 2011

Começa a viagem

São 4 da manhã, tentei dormir uma hora mas não consegui. O meu quarto estava vazio de roupas e tralhas, a carpete limpa como nunca esteve. São 4 da manhã e toca o despertador, estava na hora de partirmos para Brisbane. Malas no táxi, pranchas atravessadas e no meio do cansaço reinava uma atmosfera de entusiasmo mas também de medo: iamos para o meio das recentes cheias em Queensland, sem certezas de que conseguiríamos aterrar ou apanhar a carrinha.

Aterramos em Brisbane e vamos buscar a nossa Jucy e só aí nos permitimos rir de alívio: começava agora um mês e meio de aventura na estrada. Ahhh, a nossa Jucy: uma carrinha a achar-se campervan, verde alface e roxa, com uma tenda por cima onde era suposto dormirem duas pessoas.

Deixámos Brisbane para trás e fizémo-nos a estrada. A primeira paragem foi Surfers Paradise onde parámos em frente à praia. Testamos o fogão, explorámos a despensa, as panelas, os pratos, os talheres, sinto-me de repente a brincar às casinhas: tudo tem de estar no seu lugar senão não há espaço para nada, só temos uma panela que mal dá para cozinhar para todos. Nessa noite somos acordados as 3 da manhã pelos rangers que nos ameaçam com uma multa por estarmos a dormir em terreno público. Num misto de medo e cansaço paramos a carrinha noutro sítio e dormimos todos cá em baixo, apertados e a morrer de calor.

A fazer o jantar - surfers paradise


Os dois dias seguintes foram passados na pura indulgência: fomos pela costa até Coolangatta ter com a Catarina, fizémos praia, muuuuuuuuita praia, em Kirra, em Rainbow bay, surfámos um pouco e comemos sandes de atum. O Miguel surfou também e teve o seu baptismo no encontro com as rochas: em Rainbow Bay, num dia com correntes fortes o Miguel deixa-se levar e quando dou por mim estou eu a correr feita Baywatch girl (hã hã) para o resgatar. A prancha saiu com umas mossas e o Miguel saiu mais surfista. Nesses dois dias fizemos da praia palco de pequenos-almoços de muesli e iogurte (atenção!) jantares de massa (invariavelmente) e foi aí que começámos verdadeiramente a apreciar a nossa sorte por ainda ter mais de um mês daquela vida.

kirra beach


Rainbow bay


Rainbow bay

Ao que parece por essa altura achámos que a vida não era só praia e então fomos na "granda Jucy" (frase que ensinámos a Fanny a dizer) até Ninbim, a pequena Amesterdão da Austrália, um grande monumento à marijuana, aos hippies e ao não fazer nada. Ninbim não impressiona, mete pena: é uma rua ladeada com lojas de indumentária hippie, um museu que é de novo uma ode à erva e pessoas de todas as idades mais ou menos drogadas. A meio do passeio, à porta do museu, ouvimos esta conversa entre dois velhotes que claramente nunca quiseram deixar os anos 60 para trás:

- This is all a conspiracy....
- Oh, yeah
- Roll me another joint and I'll tell you all about it.

Ninbim


Almoçámos por lá e pusémo-nos a caminho das Minyon Falls, umas cataratas mais para o interior. Foi essa a nossa primeira noite das muitas que se seguiram no meio do bush. Dormir no meio do bush é, para mim, que nunca acampei, uma experiência nova: são os bichos, a falta de luz, as casas de banho químicas, daquelas dos festivais, a somar à história do backpacker. A história do backpacker perseguiu-nos a viagem inteira: bastava pormos o pé fora da civilização e alguém trazia a baila a história do serial killer que matou uma data de backpackers na Austrália e que até virou filme (Wolf Creek). Abreviação - o backpacker. Bom, falar no backpacker quando se está no meio do bush rodeado de arvores de 20 metros e sem rede, não é boa ideia. É tão má ideia que nessa noite jantámos dentro da carrinha e vimos um filme para adormecer.

 Trekking



Minyon Falls


No dia seguinte chegámos a Byron Bay. Mas antes disso ficámos a conhecer uma faceta até então desconhecida da Fanny: a Fanny tem uma fobia de lagartos, de todos os tamanhos e todas as cores. Estamos a preparar-nos para sair do bush quando a Fanny tem um encontro imediato com um lagarto, não um daqueles pequeninos mas um monstro de 1,5 m de comprimento, quase um crocodilo. Foi carinhosamente apelidado de Godzilla. Ora quando a Fanny vê o Godzilla fica branca, agacha-se em posição fetal e desata a chorar. A partir desse dia o Godzilla assombrou a Fanny em todas as suas idas à casa de banho. Ainda fizemos um trekking no dia seguinte, que foi mais um trauma para a Fanny que nesse dia viu mais lagartos do que na vida toda. Ia-lhe dando uma coisinha má.

Byron Bay foi uma paragem no ritmo um bocadinho alucinante de viagem que estávamos a fazer. A verdade é que o sentimento de total liberdade invadiu-nos com a vontade de ir a todo o lado. O que na Austrália pode ser complicado. Por isso foi bom ficar dois dias em Byron, acampados no parque de estacionamento do Arts Factory, um hostel de inspiração modern-hippie, com todos os confortos mas com aquelas actividades dos hippies. Modernos. (Fazer massagens e tocar guitarra enquanto balançam as rastas ao sabor do vento). Conhecemos uns quantos locals, coisa que se foi tornando hábito pelo caminho. Em Byron conhecemos o Raphael, mestre da pista de dança do Cheeky Monkeys, rei e senhor da noite de Byron. Também ficámos a conhecer a música-sensação do arts factory: Skippy the bush Kangaroo. Num concerto que marcou para sempre as nossas vidas, o autor, deste poema épico, ainda um ilustre desconhecido (não por muito tempo é certo) cantava esta música de forma claramente sentida: skippy the bush kangaroo, he's coming after you. Como disse, um poeta.




Byron Bay

O farol de Byron Bay

Depois de Byron seguiram-se mais umas cidades: Coffs Harbour, Crescent Head, Port Macquarie, Seal Rocks, Port Stephens.... no próximo post.

3 comentários:

  1. Ficamos sem saber quem embarcou na viagem.

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  2. Cat-womam, estou empolgada à espera de mais notícias! Para que conste, senti.me muito informada porque sei a história do BACKPACKER ("from hell" atrevo-me a dizer) pois fiquei a ver uma longa reportagem na FoxCrime sobre o assunto porque me lembrei de ti!
    Quanto ao Skipy... ainda sei de cor essa linda canção já que assumindo o meu estatuto de cota, via a série nos anos 70 ou 80... Sim, era uma série de TV com personagens reais e... surpresa... um canguru(!).
    Beijos e saudades.

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  3. bom relato da aventura! otima maneira de manter os outros informados. eu faço o mesmo! boas ferias, joana belchior

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