sexta-feira, 15 de abril de 2011

De Coffs Harbour a Bateman's bay


Para se irem orientando

No dia que deixámos Byron Bay o tempo estava esquisito meio com sol, meio a chover. Este é o sinal para nos pormos a andar que é verão e o que nós queremos é muito sol e escaldões australianos. Por isso fomos para Coffs Harbour, onde chegámos perto do final da tarde. A cumprir o ritual de limpeza diário (sim porque somos campistas mas não somos hippies) tomámos um flash-banho nos chuveiros da praia, a lutar contra o tempo antes que fique noite e que o vento nos tire a coragem do banho. São sempre momentos engraçados, nós de bikini, o Miguel de calções de banho, cheios de shampô no cabelo, a saltitar de frio debaixo da àgua geralmente fria e depois correr até à carrinha, toca a vestir muito rápico, num exercício de coordenação, entre malas, sapatos, sacos de pão e cremes solares.



 Acordar em Coffs Harbour


De banho tomado começamos outra saga: fazer o jantar. Na verdade, tudo na Juicy é uma saga: fazer as camas, que inclui levantar a tenda lá de cima, tirar os lençóis, por as malas na frente, empurrar os bancos, puxar a cama, "faz força que isso vai lá!" por os lençóis e finalmente dormir. De manhã é o processo inverso. Fazer o jantar involve também mexer malas já que metade habitava na nossa cozinha.

Estamos nós a fazer o jantar quando aparecem dois locals mais um cão que vivem em duas carrinhas, mais ou menos como nós só que não estão de férias. Juntou-se mais uma Jucy com duas inglesas e fizemos um rendez-vous ali no parque de estacionamento, nas nossas cadeiras de campismo. O uncle Jeff e o Uncle ross (os locals) indicaram-nos então um sitio onde dormir sem sermos incomodados pelas autoridades. Dormimos numa bela encosta com vista para o mar. Nessa manhã fomos testar a praia de Coffs Harbour e nada convencidos pusémo-nos a andar para Crescent Head, supostamente a capital do longboarding na Austrália.



crescent head

Crescent Head parece um grande parque de campismo, estilo Costa da Caparica mas como estamos na Austrália acampar é fixe e parques de campismo não é brega, é tipo soltroia. Depois do habitual jantar ao luar, percebemos que não iamos poder ficar ali pelo que se decide ir para Palmers Point, um outro parque ali ao pé. Tão ao pé que demoramos uma hora a encontrar o sitio, no meio de estradas de terra batida, enquanto eu dormia alegremente lá atrás. Invadimos um parque e ali dormimos ao som das ondas. Como entrámos à socapa no parque, no dia seguinte tivemos de fugir, dois a pé e dois na carrinha (para o caso de sermos apanhados só estavam 2 no carro).

O parque em crescent head

A fuga foi um sucesso e a sentir-mo-nos mais ciganos que nunca fomos a caminho de Port Macquarie não sem antes passar o dia numa praia deserta chamada Queen's Head onde todos apanhámos um escaldão daqueles. Chegamos a Port Macquarie e fomos à procura do habitual: um chuveiro e um sítio para parar. Port Macquarie fica no topo de uma formação rochosa pelo que para aceder a qualquer praia tem de se descer por umas estradas que acabam num mini parque de estacionamento. Como todas as praias eram assim percebemos que não poderíamos lá ficar e acabamos a dormir no parque do YHA. Fomos sair à noite e... e mais valia não termos ido que foi o medo: gente estranha a dançar ao som de musica estranha, num ambiente....estranho.

Queen's Head

No dia seguinte como estavamos no hostel fizémos TORRADAS! coisa que naquele momento nos pareceu um luxo e fomos visitar o hospital dos koalas (eu em grande expectativa porque estou aqui há sei lá quanto tempo e ainda não vi um koala). Se achávamos que iamos poder pegar nos koalas iamos bem enganados: só os vimos a dormir encostados às árvores e o único entretenimento era ler os relatos horríveis do que lhes aconteceu e ver as imagens ainda piores. Mas foi nesse dia que adoptámos o Barry, um koala de peluche que foi a nossa contribuição para o hospital e que nos acompanhou no resto da viagem. Com o Barry a bordo fomos até Seal Rocks, mais um acampamento à beira-mar. Fomos até ao parque Yagon para dormir por lá e ainda passámos umas boas horas na praia deserta do parque nacional. Nessa noite, como de costume, alguém falou no backpacker e eu dormi mal. Acordámos com os rangers a pedirem-nos dinheiro mas safámo-nos e pagámos só por duas pessoas.


Seal Rocks
Yogan park

Chegamos a Port Stephens por volta da hora de almoço e como o Miguel já tinha lá estado levou-nos até um restaurante de peixe (o luxo!!!!). Fomos ver a praia, uma baía de areia enorme, que se liga a uma pequena ilha através de um banco de areia que fica submerso durante a maré cheia. Depois de um bocado na praia acabamos a fazer o jantar e a dormir num parque à beira da estrada ao lado de umas casas de banho mal cheirosas. Mas como havia outras carrinhas lá paradas sentimo-nos seguros. Acordámos sobressaltados com o barulho do camião que limpa as casas de banho (nós a achar que desta é que iamos ser presos). Fomos até a uma das praias para fazermos o famoso sandsurf, do qual poucos registos fotográficos existem (eu depois explico). O sandsurf foi fabuloso: começámos por experimentar sentados mas depois já desciamos de pé, sem grandes acrobacias que as pranchas não tinham footstreps.

Sandsurfing


Fingal bay - port stephens

Depois do sandsurfing começamos a guiar para o interior numa incursão cujo objectivo era fazer um bypass a Sydney e ir a Canberra. Nessa primeira noite acabámos a dormir em Taralga, uma povoação de 300 habitantes (mas com um pub), a cerca de 180km de Sydney. No dia seguinte fomos beber café e não é que Taralga (pela qual me apaixonei imediatamente) tinha NESPRESSO!!! Ganhámos logo o dia. Fomos depois às Wombeyan Caves, umas grutas perto de Taralga e pusemo-nos a caminho de Canberra que era o dia da Austrália e nós achámos que, se havia dia para lá ir era sem dúvida no dia da Austrália.

 Taralga

Wombeyan Caves

Chegamos a Canberra e está um calor que não se pode. Como estávamos no parque de campismo (desta vez a pagar) aproveitámos e lavamos roupa, fomos à piscina, enfim essas coisas fixes. Para o final da tarde lá fomos ver essa grande festa do Australian Day. Bom, gostava que houvesse muito a relatar, mas não há: as comemorações eram uma regata de barcos a remo, meia dúzia de tendas e tá feito. Canberra estava meia deserta, ao que parece toda a gente foge da capital assim que pode. A capital da Austrália é uma cidade que foi encomendada: como Sydney e Melbourne não se entendiam sobre qual devia ser a capital, criou-se uma capital, no meio do nada, sem mar e sem graça e que parece uma construção soviética só que com mais bom gosto. Detestei Canberra e não volto lá mais.

No dia seguinte desiludidos com a noite anterior fomos ainda dar uma volta pela cidade a ver um ou outro monumento já que de certeza que nunca iríamos voltar. Continuámos pouco impressionados e por isso fomos a caminho de Jervis Bay, de novo para a costa.

Chegámos a meio da tarde, fomos a um café e paramos perto do centro da vila (que em si é apenas uma rua). Fomos ao pub que ficava ali no nosso quintal, jogámos bilhar (fiquei profissional nestas férias) e voltámos para casa.
Camp ground em Jervis Bay

Hyans Beach

Nessa noite dormimos sossegados e sem interrupções. No dia seguinte o tempo não prometia e por isso ficámos a preguiçar na vila, a beber cappuccinos e a ler os jornais. Mas, como o chamamento da praia é sempre mais alto, fomos até Hyans Beach que reclamava o título da praia mais branca da Austrália (há muitas praias aqui a reclamar esse título). Como o tempo não estava bom fomos até Pebbly Beach, onde estivemos em comunhão com a Natureza, os papagaios e os cangurus. Pude finalmente riscar da lista de coisas a fazer na Austrália dar festinhas a cangurus (e ser mordida por papagaios).




 Pebbly Beach








Completamente felicíssimos da vida depois do encontro com o wildlife australiano pensámos ficar por lá a dormir mas o preço não era muito convidativo a somar ao facto de que não tinha chuveiros com àgua quente. Por isso guiámos até Bateman's Bay onde encontrámos o primeiro parque onde podíamos efectivamente acampar de graça. Espectacular. Sem tomar banho (o que foi menos comum do que se possa imaginar) fizemos um BBQ e depois fomos sair para um bar/casino/club onde conhecemos mais personagens australianas (É reconfortante saber que até na Austrália o countryside é sempre cenário de pessoas peculiares.)

Voltámos para o nosso spot meio apreensivos porque durante a tarde tinhamos visto um gang de miúdos lá no parque e não sabiamos se era seguro lá ficar. Mas arriscámos e não houve problema.

Ainda faltam 8 dias para chegar a Melbourne, e ainda vamos a Narooma, Merimbula, Mallacoota, Lakes Entrance, Wilsons Promontory e Phillip's Island.  No próximo post.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Começa a viagem

São 4 da manhã, tentei dormir uma hora mas não consegui. O meu quarto estava vazio de roupas e tralhas, a carpete limpa como nunca esteve. São 4 da manhã e toca o despertador, estava na hora de partirmos para Brisbane. Malas no táxi, pranchas atravessadas e no meio do cansaço reinava uma atmosfera de entusiasmo mas também de medo: iamos para o meio das recentes cheias em Queensland, sem certezas de que conseguiríamos aterrar ou apanhar a carrinha.

Aterramos em Brisbane e vamos buscar a nossa Jucy e só aí nos permitimos rir de alívio: começava agora um mês e meio de aventura na estrada. Ahhh, a nossa Jucy: uma carrinha a achar-se campervan, verde alface e roxa, com uma tenda por cima onde era suposto dormirem duas pessoas.

Deixámos Brisbane para trás e fizémo-nos a estrada. A primeira paragem foi Surfers Paradise onde parámos em frente à praia. Testamos o fogão, explorámos a despensa, as panelas, os pratos, os talheres, sinto-me de repente a brincar às casinhas: tudo tem de estar no seu lugar senão não há espaço para nada, só temos uma panela que mal dá para cozinhar para todos. Nessa noite somos acordados as 3 da manhã pelos rangers que nos ameaçam com uma multa por estarmos a dormir em terreno público. Num misto de medo e cansaço paramos a carrinha noutro sítio e dormimos todos cá em baixo, apertados e a morrer de calor.

A fazer o jantar - surfers paradise


Os dois dias seguintes foram passados na pura indulgência: fomos pela costa até Coolangatta ter com a Catarina, fizémos praia, muuuuuuuuita praia, em Kirra, em Rainbow bay, surfámos um pouco e comemos sandes de atum. O Miguel surfou também e teve o seu baptismo no encontro com as rochas: em Rainbow Bay, num dia com correntes fortes o Miguel deixa-se levar e quando dou por mim estou eu a correr feita Baywatch girl (hã hã) para o resgatar. A prancha saiu com umas mossas e o Miguel saiu mais surfista. Nesses dois dias fizemos da praia palco de pequenos-almoços de muesli e iogurte (atenção!) jantares de massa (invariavelmente) e foi aí que começámos verdadeiramente a apreciar a nossa sorte por ainda ter mais de um mês daquela vida.

kirra beach


Rainbow bay


Rainbow bay

Ao que parece por essa altura achámos que a vida não era só praia e então fomos na "granda Jucy" (frase que ensinámos a Fanny a dizer) até Ninbim, a pequena Amesterdão da Austrália, um grande monumento à marijuana, aos hippies e ao não fazer nada. Ninbim não impressiona, mete pena: é uma rua ladeada com lojas de indumentária hippie, um museu que é de novo uma ode à erva e pessoas de todas as idades mais ou menos drogadas. A meio do passeio, à porta do museu, ouvimos esta conversa entre dois velhotes que claramente nunca quiseram deixar os anos 60 para trás:

- This is all a conspiracy....
- Oh, yeah
- Roll me another joint and I'll tell you all about it.

Ninbim


Almoçámos por lá e pusémo-nos a caminho das Minyon Falls, umas cataratas mais para o interior. Foi essa a nossa primeira noite das muitas que se seguiram no meio do bush. Dormir no meio do bush é, para mim, que nunca acampei, uma experiência nova: são os bichos, a falta de luz, as casas de banho químicas, daquelas dos festivais, a somar à história do backpacker. A história do backpacker perseguiu-nos a viagem inteira: bastava pormos o pé fora da civilização e alguém trazia a baila a história do serial killer que matou uma data de backpackers na Austrália e que até virou filme (Wolf Creek). Abreviação - o backpacker. Bom, falar no backpacker quando se está no meio do bush rodeado de arvores de 20 metros e sem rede, não é boa ideia. É tão má ideia que nessa noite jantámos dentro da carrinha e vimos um filme para adormecer.

 Trekking



Minyon Falls


No dia seguinte chegámos a Byron Bay. Mas antes disso ficámos a conhecer uma faceta até então desconhecida da Fanny: a Fanny tem uma fobia de lagartos, de todos os tamanhos e todas as cores. Estamos a preparar-nos para sair do bush quando a Fanny tem um encontro imediato com um lagarto, não um daqueles pequeninos mas um monstro de 1,5 m de comprimento, quase um crocodilo. Foi carinhosamente apelidado de Godzilla. Ora quando a Fanny vê o Godzilla fica branca, agacha-se em posição fetal e desata a chorar. A partir desse dia o Godzilla assombrou a Fanny em todas as suas idas à casa de banho. Ainda fizemos um trekking no dia seguinte, que foi mais um trauma para a Fanny que nesse dia viu mais lagartos do que na vida toda. Ia-lhe dando uma coisinha má.

Byron Bay foi uma paragem no ritmo um bocadinho alucinante de viagem que estávamos a fazer. A verdade é que o sentimento de total liberdade invadiu-nos com a vontade de ir a todo o lado. O que na Austrália pode ser complicado. Por isso foi bom ficar dois dias em Byron, acampados no parque de estacionamento do Arts Factory, um hostel de inspiração modern-hippie, com todos os confortos mas com aquelas actividades dos hippies. Modernos. (Fazer massagens e tocar guitarra enquanto balançam as rastas ao sabor do vento). Conhecemos uns quantos locals, coisa que se foi tornando hábito pelo caminho. Em Byron conhecemos o Raphael, mestre da pista de dança do Cheeky Monkeys, rei e senhor da noite de Byron. Também ficámos a conhecer a música-sensação do arts factory: Skippy the bush Kangaroo. Num concerto que marcou para sempre as nossas vidas, o autor, deste poema épico, ainda um ilustre desconhecido (não por muito tempo é certo) cantava esta música de forma claramente sentida: skippy the bush kangaroo, he's coming after you. Como disse, um poeta.




Byron Bay

O farol de Byron Bay

Depois de Byron seguiram-se mais umas cidades: Coffs Harbour, Crescent Head, Port Macquarie, Seal Rocks, Port Stephens.... no próximo post.

terça-feira, 22 de março de 2011

Australia's next top model

Ontem tivemos uma sessão fotográfica para a campanha de marketing da faculdade. E por isso lá fomos nós nos nossos business suits tirar fotografias enquanto fingiamos que estávamos a trabalhar "Olha mostra aí esse gráfico, ah que giro, sim senhora.... Isto não é nada ridículo".

Ao que parece eu vou ter que dar um testemunho num evento qualquer e por isso tive de tirar fotografias à parte. O fotografo, muito simpático tentava motivar-me com o seguinte discurso: " Yes, give it to me, yes! You nailed it, that's it, that's it, now look over here...yeah!! You got the job! You've got it!". Se aquele discurso funciona com as modelos eu não sei, mas a mim só me dava vontade de rir enquanto tentava fazer uma cara de master-graduate-super-competente. Isto enquanto agarrava um livro de business statistics.

Entretanto já mudei de casa, estou a viver em bondi, numa casinha limpinha limpinha (pelo menos em comparação com a Abercrombie, é um mimo - até tomo banho sem chinelos!!!!!) Tem um patio com um sofá espectacular, onde descanso depois dos 8km da universidade até casa - oh yeah! vou e venho de bicicleta! I've nailed it!.

Também ando meio afogada em trabalho mas eu JURO que vou começar a escrever sobre a viagem. Só preciso de ter um dia livre e cheio de inspiração.